segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Pedaços de Escrita #51





Agosto era aquele mês quente em que não havia pais. Era o mês da liberdade, da descoberta, da inovação; quando as tardes eram passadas entre o pó dos caminhos da quinta e as brincadeiras de faz-de-conta. Era o mês da nostalgia ao pôr-do-sol, que parecia tão longo. Agosto era aquela parte das férias que se regia pelas regras da avó, em que estava tudo bem e não havia pressa. Era o mês dos filmes nas tardes de fim-de-semana, com a sala às escuras por causa do calor; das tardes dos bordados, das contas de parcelas intermináveis e longas horas de leitura. Era o tempo de reflexão ao sabor do roçagar dos pinheiros à passagem do vento ou ao som dos gritos das águias e dos cucos.

Agosto tinha o sabor da infância e agora apenas restam as memórias que o transformaram no mês fantasma e letárgico, aquele momento em que o tempo pára para que se oiçam os ecos dos risos, das histórias e dos momentos partilhados; os ecos de tudo o que se perdeu nos entretantos da vida e que faziam deste, o mês em que imperava a calmaria da liberdade e a ferocidade da esperança e dos sonhos. Ah, como foi bom ser criança no mês de Agosto!