quinta-feira, 28 de julho de 2016

Pedaços de Escrita #50





Cheira a corpos suados no ar cálido e penumbrento do quarto, resguardado do calor da tarde pelas portadas fechadas. Os nossos corpos movem-se ritmicamente em vibrações compassadas, por entre respirações ofegantes, beijos e carícias. Não é simplesmente luxúria, mas a necessidade de sintonia e união, de pertencer e amar o outro. Depois caímos naquele silêncio cúmplice e trocamos um olhar parado no tempo, como se tudo o resto deixasse de existir e fôssemos as únicas pessoas no mundo.

O Amor é assim: único para cada pessoa, envolto em mistério, em paixão e sensações diversas, que se tornam inexplicáveis. Mas o Amor físico é simples de entender, é tão natural ente dois amantes, porquê condená-lo? O Amor é, talvez, a única coisa lógica que resta no mundo, mas são raros aqueles que aprendem a concretizá-lo, porque a maioria das pessoas rende-se aos vícios, ao egoísmo, à mesquinhez e à ganância, quando o Amor é a força motriz da realização e da felicidade.

É preciso arriscar o Amor para viver em pleno, mas só os mais audazes se atrevem a fazê-lo e foi o que fizemos: arriscámos ser parte um do outro e conquistámos o Amor ao cultivar a harmonia entre as nossas diferenças, amando-nos naqueles momentos que são só nossos e constituem a nossa história.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Pedaçõs de Escrita #49





O grito ecoa na escarpa nua, um som indefinido, que não é nem de dor nem de júbilo. Nada se ouve para além do trovejar do mar a bater nas fragas. E nada se revolta na quietude da floresta imersa em sombras. A aridez da encosta rochosa contrasta fortemente com a mescla colorida do azul profundo do mar e do verde luxuriante da floresta.

A areia da praia é branca e fina como farinha e a rebentação um murmúrio bem-vindo, na hora da calmaria que vai passando, enquanto a luz muda de uma luminosidade branca para a luz dourada da tarde que ilumina e aquece a memória das coisas boas e felizes. O vento eleva-se, fazendo crescer o ribombar das ondas a quebrarem-se na praia.

As gaivotas gritam entre si, voando em bando, e o grito quebra de novo o silêncio da paisagem harmoniosa. Ecoa nas rochas e perde-se no vazio, mas, de repente, outro grito incerto responde ao primeiro e as duas almas perdidas reencontram-se sob a fina e translúcida luz crepuscular que cobre a praia à hora do ocaso.

A Filha do Barão, Célia Correia Loureiro





O meu gosto por romance histórico é bastante recente, mas confesso que fiquei rendida à prosa da Célia Loureiro desde da primeira à última página (tal como aconteceu com os livros da Carla M. Soares). Já andava para ler este livro há um ano e acho que lê-lo somente agora foi o timming certo, uma vez que promete uma continuação. Mesmo havendo algumas gralhas, que me fizeram tropeçar na leitura, este livro mexeu comigo de uma forma que muito poucos conseguiram, porque o sofrimento suportado pelos protagonistas me eriçou os nervos e porque, cada vez mais, é preciso acreditar em histórias de amor.

Uma história que evoca um episódio marcante na nossa História enquanto povo e a tenção associada ao mesmo, cujo enredo carregado de suspense, medo, dúvida, intriga e amor, se desenvolve em torno de personagens cativantes e frustrantes, as quais primam pela sua excelente caracterização. Para além disso, a panóplia de emoções que a narrativa suscita é inebriante, está repleta de avanços e recuos, desencontros e confrontos que prendem irrevogavelmente a atenção do leitor. Uma história de amor que retrata uma época em que a condição da mulher era, sob todos os aspectos, revoltante, e que insinua uma certa esperança na crença de um amor verdadeiro e duradouro. Confesso que fiquei atordoada com o final, que foi tão inesperado como inquietante. O que será que irá acontecer?


segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Melhor Lugar do Mundo é Aqui Mesmo, Francesc Miralles e Care Santos





Já andava para ler este há algum tempo; um livro pequenino que nos diz tanto sobre aquilo que realmente importa: o presente. É uma leitura rápida e leve, mas muito curiosa e reflexiva, algo que de vez em quando também faz falta. A história de alguém que se desencantou com a vida e que por um acaso do destino descobriu que para vivermos plenamente temos de o fazer mesmo, aqui e agora. Porque a vida é construída no presente e as coisas acontecem quando as fazemos acontecer a altura certa. Creio que, ao debater esta questão do aqui e agora, os autores acertaram numa quase resposta à insatisfação de muita gente, porque grande parte do tempo desejamos as coisas, mas não fazemos nada ou fazemos muito pouco para que isso aconteça. E às vezes não é preciso procurar muito, basta ter atenção ao que sucede à nossa volta e agarrar as oportunidades que cruzam o nosso caminho. Gostei muito.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Dança dos Dragões e Os Reinos do Caos, George R. R. Martin



 


Nestes dois volumes, torna-se tudo muito mais complicado, mas são também muito reveladores em termos de suspeitas relativamente a alguns segredos deixados no ar nos volumes anteriores. A verdade está longe de ser descoberta na integra, as querelas agravam-se e perante o caos e o pronúncio do Inverno, há uma reconquista eminente, mas resta saber quem lhe sobreviverá e qual o fim desta grande saga. Não há dúvida que Martin escreveu com empenho e dedicação, uma história cavaleiresca de proporções épicas, onde nada é o que parece e cujas revelações são tão abruptas se sucedem umas às outras com uma rapidez vertiginosa.

O Festim dos Corvos e O Mar de Ferro, George R. R. Martin






Depois da atribulação causada pela guerra, o rescaldo dá origem a uma nova onda de intrigas, cada vez mais complexa, sem que se aviste um fim para as mentiras e meias verdades engendradas para atingir seja que objectivo for. Por cada situação a que se assiste o desfecho, Martin cria mais duas ou três, só para nos confundir mais um bocadinho, mas sempre mantendo as nossas expectativas em suspenso e fazendo-nos remoer os nervos que as atitudes de certas personagens nos causam. E o reboliço só piora daqui em diante!

A Tormenta das Espadas e A Glória dos Traidores, George R. R. Martin





Com estes dois volumes fiquei sem folego e em choque, porque não previa nada parecido (acho que é essa a ideia, ficarmos à nora!). Se por um lado os conflitos se tornaram mais tumultuosos, por outro as artimanhas e traições são cada vez piores. Para além disso, há um vislumbre do sobrenatural que começa a imiscuir-se na narrativa e que sugere a aproximação de algo que ninguém espera. A narrativa vai crescendo em crueza e frustração, revelando muito pouco e suportando o mistério com tantas personagens que tanto são envolvidas na narrativa como desaparecem da mesma. Porém, há um certo gozo no "castigo" aplicado a algumas personagens.

A Fúria dos Reis e O Despertar da Magia, George R. R. Martin






Após os sobressaltos finais do volume anterior, eis que nos deparamos com um cenário de guerra civil e diversas quezílias e intrigas espalhadas pelos Sete Reinos. O que é verdade e o que é mentira? A catadupa de emoções continua a surpreender nestes dois volumes, muito embora estejamos longe de obter qualquer resposta às nossas dúvidas.

É difícil escrever fantasia, mas criar algo tão complexo como esta saga parece-me quase impossível. Entre o enorme role de personagens e pequenos enredos, a mestria de Martin deixou-me agarrada à saga e a tentar descortinar uma série de ligações que, provavelmente, só serão reveladas no final.

A Guerra dos Tronos e A Muralha de Gelo, George R. R. Martin



 


Não costumo ler fantasia épica, mas no meu reportório literário não podia faltar a saga que tanto furor tem causado: A Song of Ice and Fire; cuja adaptação televisiva adoptou o título do primeiro livro, A Guerra dos Tronos. Apesar de não ser das minhas favoritas, é muito boa e prima pelas descrições e personagens realistas, tratando-se de um must read, ou seja, mais do que ver a série, acho que deveriam ler os livros.

O estilo de escrita de Martin é em tudo diferente daquilo que estou habituada, muito do género de romance de cavalaria, mas também por isso é que me cativou. O autor apresenta uma narrativa que se desenvolve sob a perspectiva de uma personagem diferente em cada capítulo, num enredo vertiginoso e repleto de intriga, suspense, mistério e reviravoltas sombrias. Confesso que fiquei curiosa para saber o que acontece a seguir.

Neste primeiro livro (na edição portuguesa cada livro está dividido em dois volumes), o autor dá-nos a conhecer algumas das personagens principais em torno das quais se irá desenrolar a intriga. Logo à partida é possível fazer distinção entre as personagens que adoramos, as que odiamos e as que não compreendemos; estão todas tão bem caracterizadas, as boas e as más, que é impossível resistir. No entanto, a crueza de certas passagens (sobretudo nos livros posteriores), arrepia qualquer um.