quarta-feira, 27 de maio de 2015

Pedaços de Escrita #27






A minha filha usava laços cor-de-rosa no cabelo, num tom suave igual ao do vestido de Verão, chicoteado pelo vento enquanto ela corria pela relva de pés descalços. As suas gargalhadas infantis ecoavam no ar morno da tarde, o cabelo cor-de-mel um estandarte de liberdade e os olhos azuis brilhantes de felicidade. À nossa volta, na copa das árvores, os pássaros chilreavam e o vento restolhava; Eu estava sentada sobre o cobertor multicolorido enquanto observava a nossa pequenina a desfrutar da sua inocência. Fechei os olhos por um momento e, então, ali estava ela, mesmo à minha frente, de sorriso arreganhado:
- Mamã? Toma!
E estendeu o braço para mim, largando-me no colo um raminho de flores silvestres. Sorri-lhe, cheirei as flores e disse-lhe que eram bonitas. O seu sorriso abriu-se ainda mais e ela plantou me um beijo na face, para depois desatar a correr outra vez, qual cabrito tresmalhado. Comecei a entrançar as flores e ao fim de algum tempo tinha duas tiaras primaveris no meu colo. A minha pequenina cansou-se de correr e veio sentar-se junto de mim; pus-lhe uma tiara na cabeça e a outra na minha e sorrimos uma à outra. Depois ficamos em silêncio, à espera. Quase ao crepúsculo, ele veio ao nosso encontro, reunimos o cobertor e fomos para casa. 

terça-feira, 26 de maio de 2015

A Guerra das Bruxas, Maite Carranza





Comecei esta trilogia há uns anos, mas infelizmente o último volume não foi ainda ou não chegou a ser traduzido. Talvez devido ao facto de o público leitor português estar muito mais habituado às obras de autores ingleses e americanos do que às de autores castelhanos. Pessoalmente, não achei esta história nada por aí além. É interessante do ponto de vista do género fantástico, mostrando uma perspectiva mais moderna daquilo a que normalmente se chama feitiçaria: a wicca; mas discordo profundamente dos críticos que referem esta trilogia como equivalente a grandes nomes do fantástico. É simplesmente diferente de tudo o que já li, quer no desenrolar do enredo, quer na caracteriação das personagens. Pena que não possa descobrir como termina. 

domingo, 24 de maio de 2015

Pedaços de Escrita #26






Doces e bordados; dois aspectos da vida doméstica, tão intrinsecamente sobrevalorizados hoje em dia, mas que fazem inevitavelmente parte de uma cultura tão rica. Se não fossem os doces caseiros feitos pelas nossas mães e avós e pelas mães e avós delas, talvez não existisse uma tão grande variedade. E se não fosse o espírito criativo impulsionado pelas cores garridas e padrões intrincados, elaborados através de pontos minuciosos, a decoração caseira tornar-se-ia monótona e vulgar. Para ambas as coisas basta apenas um pouco de sensibilidade e boa vontade. Porém, são uma minoria as pessoas que se interessam por qualquer uma destas artes; mas não é qualquer pessoa que tem talento para tal e o que parece simples complica-se. O melhor destas e outras artes é a grande diversidade de possibilidades, uma vez que cada pessoa adapta um doce, sobremesa  ou desenho intrincado ao seu gosto. É tudo muito universal e pessoal ao mesmo tempo. Por isso, sim, doces e bordados são duas artes domésticas muito preteridas pela maioria das pessoas, mas para outras continuam a ser muito interessantes, úteis e divertidas. 

domingo, 10 de maio de 2015

Pedaços de Escrita #25






Quando penso em lar, ocorrem-me várias coisas, como a casa dos meus avós ou locais onde existem livros ou é possível escrever. Por "casa dos meus avós", refiro-me mais propriamente ao local onde a casa está situada, na montanha, de frente para oeste, o que possibilita a visão de um pôr-do-sol maravilhoso. Lá sinto-me em casa, talvez por causa da minha infância, sinto-me verdadeiramente feliz. Contudo, também tenho essa sensação numa biblioteca ou livraria, porque adoro ler e um livro é sempre uma boa opção quando não há mais nada para fazer; ou quando pego em papel e lápis e escrevo as minhas próprias histórias, que são tão parte de mim como respirar. Quando penso nisso, estas coisas facilmente me fazem sorrir. E quando imagino o meu futuro dentro de dez anos, há vários aspectos que constituem a minha ideia de felicidade: independência, escrita, família, uma vida simples, algures no campo, mas relativamente perto da cidade. No fundo, alcançar aquilo que me faça sentir preenchida enquanto pessoa.

Pedaços de Escrita #24





A Chave, é um pequeno restaurante de self-service, situado numa rua muito movimentada, entre dois grandes edifícios de negócios, como duas torres gigantes. Do exterior parece uma casinha saída de uma história antiga, com a sua fachada bege decorada pelas molduras de madeira escura das janelas e da porta. Em cada janela existe uma floreira de barro, suportando vasos de amores-perfeitos. No interior, as paredes são beges e o chão de madeira escura; tem algumas mesas, também em madeira escura, tal como o balcão. A parede frente ao balcão, bem como a de trás, está decorada com chaves antigas, referentes ao nome do restaurante. Por fim, o restaurante tem uma ementa apelativa que consiste numa salada de tomate e queijo e uma canja de frango como entradas; bife grelhado e peixe com batatas fritas como pratos principais e pudim flan e gelado de chocolate como sobremesas.