quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

As Coisas Impossíveis do Amor, Ayelet Waldman





Há já dois anos que andava para ler este livro e apesar de se ter revelado algo diferente daquilo que eu supunha, é uma leitura muito interessante, tratando uma questão que por vezes tendemos a ignorar: a capacidade de nos colocar no lugar do outro e dar mais de nós. Não é exactamente o género de leitura que me arrebata por completo, mas gostei da sua descomplexidade desarmante. Para além disso, a carga emocional que carrega é intensa e remete-nos para a nossa própria humanidade imperfeita. Apesar de a perda de um ente querido, ainda para mais um bebé que mal começou a viver, ser um tema um tanto ou quanto pesado, a autora transmite-nos a ideia de que o amor, seja qual for a sua forma, tem a terrível tendência a superar as mais controversas circunstâncias. Trata-se de uma narrativa forte e provocante, que suscita profundas inquietações e reflexões sobre como cada um de nós reagiria no lugar de qualquer uma das personagens, desafiando-nos constantemente a contestar as suas motivações. Vale a pena reflectir com e sobre este romance que, de certa forma, nos instiga a procurar a melhor maneira de conquistar a melhor versão de nós próprios.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Pedaços de Escrita #55





Jake sempre fora um sonhador. Desde muito novo que sonhava conhecer o mundo inteiro, viajando com uma simples mochila às costas, sem destino ou paragens obrigatórias. Os pais mostravam-se sempre apreensivos quando ele sugeria uma qualquer viagem extraordinária, pois eram pessoas mais terra-a-terra. Apesar de entenderem, conformavam-se com o espírito livre daquele filho que, apesar de idealista, sempre dera provas de ter os pés bem assentes no chão. Sim, embora se apresentasse como cidadão do mundo, Jake sabia que, por muito nobre que fosse a causa que apoiava, o seu esforço solitário jamais sortiria qualquer efeito.

No entanto, sabia muito bem o que queria da vida: trabalhar para viver e, não, viver para trabalhar. Felizmente, o seu trabalho de cronista chegava para as suas ambições de viajante, concretizando-as pouco a pouco. Como tal, Jake decidira que passaria três meses por ano a viajar. Começaria pela Europa, porque havia um efeito encantatório que o fascinava pelo velho continente. Nesse ano escolhera visitar França, Itália e Áustria; indo ao encontro da aventura. Reuniu um pequeno grupo de amigos e, apesar das reservas das famílias, partiram na data combinada, indo à procura da realização de um sonho antigo. 

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Pedaços de Escrita #54





Voltava sempre à mesma dúvida por esclarecer: Porque é que isto me acontece?. Parecia incapaz de ultrapassar aquele percalço da sua vida, vivendo como uma enclausurada, parada no tempo. Ficava simplesmente ali a olhar pela janela, a ver toda a gente avançar com a sua vida. Ele suspirava, já sem saber o que fazer, vira todos os seus gestos carinhosos serem ignorados. Se ao menos o seu desejo de maternidade se realizasse, talvez aquela apatia fosse varrida do seu semblante e a sua querida esposa voltasse a sorrir. Mas o que fazer se, mal se aproximava, ela lhe silvava, como um gato, para o afastar.

Após dias de desânimo, estava sentado no sofá, à espera nem sabia bem de quê. Pousou os cotovelos nos joelhos e escondeu o rosto nas mãos. Algum tempo depois, apercebeu-se da presença dela a seu lado. Ergueu o rosto, surpreendido, pegou-lhe nas mãos e beijou-lhas. Ela sentou-se ao lado dele, dobrando as pernas junto ao corpo e olhou-o fixamente. Ele acariciou-lhe o rosto e ela chegou-se para mais perto, sem o desfitar. Arrepiado perante aquele olhar, ele pousou-lhe nos lábios entreabertos um beijo prenhe de desejo, sentindo-a arquejar. Subitamente, ela sentou-se no seu colo e desapertou-lhe lentamente os cordões da camisa, enquanto os lábios dele viajavam pelo seu pescoço, demorando-se no ombro e depois no peito, onde as mãos dele mergulharam ao abrir-lhe o corpete.

Encararam-se momentaneamente, eletrificados por aquele desejo mútuo desmesurado, sem saber de onde surgira, apenas que quando a paixão se inflama, alastra tão profusamente que a razão se some indefinidamente. Amaram-se ali mesmo com tal furor que perdurou nos dias que se seguiram, como se, como jovens apaixonados que eram, quisessem perpetuar eternamente a solidez da sua união. Meses mais tarde, essa solidez proporcionou-lhes o momento mais feliz da sua vida: a chegada do seu tão desejado bebé.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Reflexões #6 - Pequenos Passos





A vida é como uma montanha russa, cheia de emoções e estados de espírito conturbados, de estranhas coincidências e peripécias inesperadas. Por vezes até parece ridículo confiar em certas máximas ou superstições, mas o que é certo é que, na maioria das vezes, as coisas acontecem mesmo quando menos esperamos. Não sou supersticiosa, mas por uma razão qualquer que não sei explicar, sempre acreditei que tudo acontece quando tem de acontecer, independentemente de ser coincidência ou não.

Pelo menos é o que tem acontecido comigo, apesar de serem quase sempre pequenas grandes conquistas, quando comparadas com o sonho de ser escritora. Este mês aconteceu mais uma dessas conquistas: comecei a trabalhar. O que significa que o tempo dedicado à escrita foi reduzido, mas sinto que estou a fazer alguma coisa útil. Quer com isto dizer que é necessário equilibrarmos aquilo que queremos fazer com aquilo que temos de fazer para o alcançar. Ou seja, mesmo acreditando que existe um momento devido para acontecer qualquer coisa, é preciso fazermos com que esse momento se proporcione. O rumo das nossas vidas depende somente das nossas escolhas e da aceitação das consequências das mesmas.

Também é verdade que, muitas vezes, o esforço que empreendemos na luta pelos nossos objectivos, quer sejam pessoais, quer sejam profissionais, se torna exasperante. O importante é descobrir a melhor maneira de contornar as adversidades e seguir em frente, procurando alcançar ou cumprir o objectivo definido.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pedaços de Escrita #53





O mundo é assim, um lugar imenso repleto de sonhos, conquistas, fantasias e desgostos. É um lugar de alegria pura e tristeza profunda. É um lugar algo quebrado e algo reconstruído, que está longe de distinguir o certo ou o errado. De vez em quando atira-nos uma saraivada de chuva fria, outras vezes um raio de sol morno e outras ainda, um assobio de vento zangado. O mundo que pensamos conhecer é hoje um reflexo de luz na ilusão tormentosa, que não passa de uma realidade retorcida. O caminho que sobe a montanha na manhã fria é o mesmo que a desde na tarde amena, repleta de eterne promessa e vazia de actos compulsivos. À noite já só nos resta aquela chama de esperança que surge dos recônditos lugares inconscientes, provocando uma desconhecida vontade de lutar. Para isso, basta apenas dar um salto de fé que nos lança no abismo do inesperado de mente aberta às possibilidades que a vida nos apresenta.