sábado, 13 de dezembro de 2014

Pedaços de Escrita #14






Chuva aborrecida. Do outro lado da janela, o mundo está molhado e frio. Se fica mais frio e continuar a chover pode nevar. Seria bom ter neve no Natal; mas geralmente isso não acontece aqui porque nunca fica frio o suficiente. Natal ... aquela época do ano, quando se devia reflectir no ano inteiro e estar rodeado pela família e amigos, amor, vida e riso, compartilhar o calor  de uma lareira e histórias engraçadas, e receber presentes dados com o coração. Em vez disso, as pessoas correm de um lado para o outro, sem viverem esta época com alegria, muitas vezes separam-se umas das outras ou simplesmente fecham o seu coração à magia do Natal. Sim, o Natal é suposto ser mágico, acima de tudo o resto, mas as pessoas esqueceram-se  de como acreditar e dar um salto de fé; fizeram-se infelizes num momento que deveria ser feliz por todas as razões e mais algumas. É claro que quando crescemos, o Natal muda em todos os sentidos, de uma forma ou de outra; cabe a nós mesmos tentar manter a simplicidade e ter a coragem de pensar "Vamos ter fé e acreditar na magia do Natal, ok?". Eu digo, está bem, vamos tentar!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Pedaços de Escrita #13






É tão bom ler um livro. Folheá-lo e sentir-lhe as páginas, cheirá-lo. Não há sensação comparável. Sim, agora a maioria dos leitores fá-lo através de edições digitais, mas perde todo o contacto com o livro: o texto está ali, diante dos olhos, mas longe do toque, da sensação calmante de segurar o livro nas mãos. Eu não; eu continuo a sentir o fascínio que a forma física do livro me provoca, a querer senti-lo e cheirá-lo, a querer ter consciência do seu peso nas minhas mãos. Ler é uma aventura maravilhosa; uma terapia de emoções a que só alguns cedem, mas mesmo assim, algo que transporta para lá da racionalidade, para o lugar onde tudo é possível se o imaginarmos, se tivermos uma derradeira vontade de nos perder no tempo e no espaço, mesmo que apenas por alguns minutos. É tão bom ler um livro.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Pedaços de Escrita #12






Era o vento frio que me fazia tremer; a rua, as casas, o chão, as árvores, tudo girava num rodopio incessante e avassalador. Deixei de ver, de ouvir, de sentir; a escuridão da noite cobriu-me e os meus olhos fecharam-se para o mundo. O silêncio oprimia-me quando acordei sem saber onde estava, caída no meio da estrada deserta, completamente sozinha. Onde estavam todos? O que acontecera? O vento levantou-se de novo e começou a nevar. Levantei-me, ainda zonza, e cambaleei pela estrada. Ergui os olhos para o céu escuro de onde caíam milhares de pontos brancos que cobriram o solo com o espesso manto branco do Inverno. Lágrimas quentes correram pelas faces e não as limpei. Segui a estrada silenciosa, sempre a tremer, sem olhar para trás. Então, uma luz rompeu a escuridão, ao longe, numa promessa de conforto. Continuei a andar, cada vez mais devagar, por entre a neve que me chegava aos tornozelos; começou tudo a rodar novamente e a minha visão turvou-se. A luz parecia afastar-se, agora pontilhada de sombras, agora brilhando alaranjada, e um apelo abafado cortou o ar da noite. Depois desmaiei no solo gelado, enquanto o vento soprava na noite escura, o silêncio deturpando-me os sentidos.

Círculo de Magia, Debra Doyle e James D. Macdonald





Esta foi outra das séries literárias que me acompanharam na adolescência e agora, ao fim de uns bons anos, reli-a com avidez, porque é impossível parar a leitura antes de chegar ao fim. Uma história emocionante sobre aventura, lealdade, amizade e força de vontade; a história de um rapaz simples que desistiu da cavalaria para se tornar feiticeiro, contada com mestria, mas que infelizmente parece ter ficado incompleta, pois há muito tempo que Doyle e MacDonald não publicam nenhuma aventura desta série e é pena que haja alguns erros de tradução ao longo da narrativa, mas seja como for, é bastante inspiradora e ensina-nos lições valiosas, como o facto de que a vida é feita de escolhas, e todas as escolhas têm consequências, e que nem sempre as coisas são o que parecem ser. Vale mesmo a pena!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

As Terras de Elyon, Patrick Carman





"Acontece que Alexa é muito curiosa e sempre ansiou por explorar o misterioso mundo exterior das muralhas. Então, por um estranho acaso, a chave que abre uma porta secreta vem parar às suas mãos! Corajosamente Alexa empreende uma viagem de descoberta a um mundo mágico onde nada é o que parece."

Este primeiro volume de As Terras de Elyon, abre portas a um mundo repleto de aventura e magia, amizade e conspiração, mistério e revelação. Já não me lembro da altura exacta em que este livro veio parar à minha estante, mas sei que gostei muito e agora, ao fim de uns quantos anos, li-o novamente, sempre com a mesma sensação: a de desejar viver uma grande aventura. Naturalmente, na realidade não acontecem aventuras como as de Alexa e embora esta obra seja dirigida a um público mais juvenil, não consigo deixar de me encantar com ele, até porque me identifico um pouco com a protagonista. Os volumes seguintes que li (O Vale dos Espinhos e A Décima Cidade), são igualmente encantadores, mas sobre esses falarei mais tarde nos respectivos posts; o quarto, infelizmente, não está ainda traduzido e mesmo em inglês, não faço ideia onde o poderei arranjar. Espero que cedam à curiosidade e leiam esta série, porque é preciso gente que sonhe e que se aventure, mesmo que seja só nos livros.





"É outra vez Verão e como todos os anos Alexa desloca-se a Bridewell com o pai. Depois das aventura do ano anterior, (...) Alexa pensa que vão ser umas férias tranquilas. (...) Mas então uma inesperada ameaça surge do exterior. (...) Alexa e os seus amigo, humanos e bicharocos (...) vão ter de se arriscar a enfrentar perigos impensáveis para trazer de novo a paz ao seu mundo."

Este segundo volume da série traz-nos, passado um ano o derrube das muralhas, uma nova aventura repleta de emoção, onde são revelados alguns segredos do mistério que envolve Thomas Warvold e toda a terra de Elyon. Desta vez Alexa, viaja para além das muralhas de Bridewell, numa missão inesperada e perigosa, a sua coragem mais uma vez posta à prova. É impossível largá-lo antes de chegar ao fim e o melhor de se ler uma série ou saga pela segunda vez é que se pode lê-la toda, ou quase, de uma vez!





"Nesta nova aventura, Alexa Daley sabe que se dirige para uma arriscada missão, mas nem ela nem os seus amigos imaginam o perigos que terão de enfrentar na sua jornada para salvar as Terras de Elyon do domínio do diabólico Victor Grindall e do seu líder Abaddon (...) Mas as surpresas vão ser muitas..."

E depois de todas as atribulações e revelações do volume anterior, eis a emocionante conclusão de uma aventura e o início de outra. Tal como disse anteriormente, esta série trata-se de um mundo repleto de aventura e magia, amizade e conspiração, mistério e revelação; esta narrativa encerra a luta travada entre Elyon e Abaddon, na qual Alexa desempenha um papel fundamental: é o seu destino salvar a Terra de Elyon; e quando tudo se complica e parece perdido, é graças à sua coragem e fé, mas também ao apoio dos seus companheiros que o bem triunfa novamente. Mal posso esperar para saber o que acontece a seguir; é mesmo uma pena que o volume seguinte não esteja traduzido.


História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, Luís Sepúlveda





Lembro-me que a curiosidade de ler esta história surgiu quando li um excerto num dos meus livros de português da escola, de que ano já não me lembro, mas era ainda miúda. Desde a primeira vez que o li que se tornou, sem dúvida alguma, num dos meus preferidos, de tal modo que já o li umas três vezes. Uma amizade improvável entre um gato "grande, gordo e preto" chamado Zorbas e uma pequena gaivota chamada Ditosa; uma história simples e muito engraçada, numa escrita fluída e harmoniosa, que nos ensina a apreciar as coisas simples e a pôr de lado quaisquer diferenças. Curiosamente, foi a única coisa que li até hoje de Sepúlveda, mas quem sabe se um dias destes não me dá para ler mais qualquer coisa. Se gostam de uma boa história e sobretudo de autores portugueses / brasileiros, não deixem de ler esta obra, porque é muito boa em qualquer idade.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pedaços de Escrita #11






- Eu sou assim. Tenho fases como a lua, fúrias como o mar, o vento e o fogo. Sou selvagem e carinhosa, tímida e sonhadora. Se me amas, suporta-me no meu pior e merece-me no meu melhor. E se te atreveres a partir-me o coração, terás de lidar com a minha indiferença e fúria. Consegues lidar comigo em todos os meus estados? És capaz de me amar para além do "felizes para sempre"? - disse-lhe.
Ele sorriu, levou os meus dedos aos lábios e prendendo o meu olhar, respondeu:
- Não sei o que farei senão amar-te em todos os teus estados, porque eu também sou meio selvagem e jamais te partirei o coração.
- Prometes?
- Prometo - sussurrou ele, segurando-me firmemente e beijando-me fervorosamente. E então fizemos amor a noite toda, até a madrugada vir anunciar outra manhã preguiçosa.

Great Expectations, Charles Dickens





Sei que é provável que poucos concordem comigo, mas Dickens é um dos mestres do realismo inglês e um dos melhores. Great Expectations fez parte do reportório da cadeira de literatura inglesa séc. XVIII - XIX do meu primeiro ano de licenciatura e, confesso, na altura não consegui terminar a leitura porque a obra foi abordada de forma demasiado reveladora, daí que ao fim de três anos, resolvi-me a lê-lo e fui surpreendida positivamente pela escrita envolvente e directa de Dickens, pelo enredo intrigante e pela vivida caracterização das suas personagens carismáticas. Posso dizer que das poucas obras clássicas que já li, esta foi uma das que mais me deixou em suspense do início ao fim.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Fairy Tales, Hans Christian Andersen





Não sei o que pensará o público em geral, mas considero estes contos verdadeiramente encantadores, uns mais divertidos, outros mais conhecidos, mas todos excelentes. Tenho uma certa queda por contos de fadas, mas as versões que li em português quando era criança não se comparam com a genialidade e originalidade transmitidas por esta versão em inglês da Penguin Books, mesmo não sendo a original, uma vez que Andersen era dinamarquês e escreveu na sua língua materna. Aqui estão reunidos 47, embora o autor tenha escrito perto de 150 contos; alguns dos quais se tratam de folktales nativos que Andersen passou para versão escrita. Este é sem dúvida mais um dos must-haves da literatura clássica que deve ser lido e relido, independentemente da idade.

domingo, 2 de novembro de 2014

Pedaços de Escrita #10






Longe, longe, é onde preciso de estar agora. Longe de todos, longe de todos os contos inacabados, longe de todos os sonhos por realizar. As emoções boas fugiram de mim e onde as posso encontrar outra vez? Talvez aqui mesmo, talvez não; talvez no outro lado do mundo, talvez em lado nenhum. O teu abraço impede-me de enlouquecer na minha hora mais negra; o teu amor é a única coisa que o meu coração precisa para se amenizar. Então, compreendo o que sempre soube: o amor é tudo o que é preciso para curar um espírito assustado e tu dás-me esse amor, por isso o meu coração sara. Não me largues, aconteça o que acontecer, ou então perder-me-ei na loucura do mundo para sempre. O murmúrio do vento é suficiente para me fazer tremer. Quer separar-nos, conheço a sua vontade. Mas tu olhas para mim tão calmo, sorrindo com tal ternura, e abraças-me num aperto gentil. Desejava poder ignorar o vento, mas o seu apelo é tão forte que os meus olhos se enchem de lágrimas. E então a tua voz sobrepôs-se à tempestade de sentimentos com que o meu coração luta, tão calma a tranquilizadora, que arregalei os olhos à luz do sol. O vento passou e a manhã brilha galantemente sobre nós. E eu respiro, finalmente, aconchegando-me na segurança do teu abraço. E terminaram todas as coisas más. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pedaços de Escrita #9






Há muito que o Verão terminou, mas ainda não é Inverno. É aquela altura intermédia, necessária à transição da luz e som e ventos mornos para o silêncio calmo e meditativo, o tempo da transformação. É o chamado Outono; aquela altura quando as folhas das árvores passam do verde ao amarelo, laranja e vermelho e o tempo arrefece; é tempo de chocolate quente e chá, camisolas, luvas e meias quentes; o sol assemelha-se a nada menos do que a chama de uma vela e a escuridão cobre o mundo tão cedo que nos deixa sonolentos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pedaços de Escrita #8





Não tenhas medo da vida, tem medo de não a viver. Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes. Só é digno do pódio quem usa as derrotas para o alcançar. Só é digno da sabedoria que usa as lágrimas para a irrigar. As pessoas frágeis usam a força; as fortes a inteligência. Sê um sonhador, mas une os teus sonhos à disciplina, pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas. Debate ideias. Luta pelo que amas.

(August Cury, Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes)

domingo, 19 de outubro de 2014

Complete Fairy Tales of Oscar Wilde





Lidos pela primeira vez na integra, os nove contos que compõem as colectâneas  The Happy Prince and Other Tales e A House of Pomegranates, de Oscar Wilde, transmitem uma ideia muito clara de que não se tratam de meros contos de fadas. São profundamente irónicos e subversivos, constituindo uma forte crítica social ao falso moralismo da sociedade victoriana do séc. XIX; exercendo também um forte sentido estético. Consequentemente, e como o próprio Wilde afirmou, estes contos foram escritos parcialmente para crianças e parcialmente para aqueles que não perderam as capacidades infantis da maravilha e da alegria; divergindo propositadamente do "Era uma vez" e do "Viveram felizes para sempre" a que nos habituámos na infância. Por outro lado, estes contos estão impregnados por um imaginário católico muito evidente que contribui para o sentido da narrativa. Independentemente de toda a especulação em torno de certos aspectos da vida do autor, que segundo muitos críticos se reflectem nos contos, considero que existe uma vasto leque de interpretações que se podem fazer destas narrativas, por exemplo, se a designação de Fairy Tales será a mais correcta, tendo em conta a natureza dos mesmos? Experimentem lê-los e julguem vocês mesmos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Pedaços de Escrita #7






Contos de Fadas; esta simples expressão, que está sempre associada com o "Era Uma Vez" e "Viveram Felizes para Sempre", carrega um significado muito mais profundo do que aquele que lhe é popularmente atribuído. Povoam os nossos sonhos de infância, proporcionam-nos um sentimento de familiaridade; provocam-nos um fascínio electrificante de cada vez que os ouvíamos. Mas os tão amados Contos de Fadas não eram, de todo, destinados a crianças na sua forma original; na verdade, só ganharam essa particularidade na transição do século XVIII para o século XIX, altura em que o conto se afirmou como género. Lembro-me de ouvir (e ler) muitos deles sob diferentes formas e mesmo tanto tempo depois da infância, continuo a sentir o mesmo deslumbramento, embora os leia e observe num outro ângulo, com o conhecimento do que se esconde sob a superfície dos Contos de Fadas: múltiplas interpretações de significados, múltiplas hipóteses de leitura, múltiplas possibilidades; uma forma de arte literária que deu nome a grandes nomes da literatura europeia e que se mantêm tão fascinantes como quando foram transcritos para o papel. E como foi dito uma vez: os contos de fadas foram escritos "em parte para as crianças, em parte para aqueles que mantiveram as faculdades infantis da maravilha e da alegria".

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pedaços de Escrita #6






A luz dourada do fim de tarde dá-me paz, mas não acalma a ferocidade do meu coração. Anseio por uma aventura; uma longa viagem de carro com todos os seus encantos e surpresas. Anseio por encontrar o meu lugar neste mundo! Encontrei a minha voz; agora estou a tentar usá-la. Só que ninguém está a ouvir, excepto tu, meu amor. Tu és o único que me incentiva, dizendo para não desistir e continuar a tentar. Mais fácil dizer do que fazer, querido; Eu tenho lutado desde a madrugada da minha vida e nunca parei, nem por um pequeno instante e agora preciso de dormir. Vem, deita-te comigo, abraça-me e murmura-me uma canção de embalar até adormecermos! Não quero sonhar, quero viver como nunca antes vivi, quero ser verdadeiramente feliz! Libertar-me de todas as convenções e ideias feitas, libertar-me de toda a tristeza, doença e sofrimento! E quero fazer tudo isto contigo, amor! Por isso, vem e voa comigo no céu crepuscular; perseguiremos a nossa liberdade e construiremos a nossa felicidade no fim do arco-íris!

Early Irish Myth and Sagas, Jeffrey Gantz





Quando pensamos em histórias, quando as ouvimos ou contamos, nem sempre nos lembramos de onde vieram, qual a sua origem. As tradições de story-telling são mais que muitas na Europa e muitas delas misturam-se consequentemente. Uma das mais ricas é, sem dúvida, a tradição irlandesa, que remonta aos Celtas; uma tradição rica e vibrante, cujos contos provêm em grande parte da tradição oral e alguns deles têm mais do que uma versão. Gantz juntou neste volume alguns dos mais conhecidos e emblemáticos, onde a história e o o mito se fundem, sem que realmente se distingam um do outro. Foi uma leitura obrigatória na faculdade, durante o meu ano de Erasmus, e que gostei muito, porque me ensinou algo mais sobre a importância do conto na literatura.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Rapaz do Pijama às Riscas, John Boyne






Baseada numa das épocas mais chocantes da história da humanidade, esta pequena obra de John Boyne apresenta-nos a história de Bruno e Shmuel, cuja inocência e esperança ultrapassam (em certo ponto) as barreiras da crueldade de uma nação. Esta narrativa procura mostrar-nos que coisas tão simples como a empatia natural entre duas crianças da mesma idade, poderiam eventualmente existir em pleno horror da II guerra mundial, altura em que todos os valores humanos foram suprimidos em prole de ideais genocidas. Não foi das melhores leituras que tive, sobretudo pelo contexto em que se insere, mas creio que serve de exemplo como a natureza humana se distorce pelas razões erradas e que, como sociedade, devemos procurar que estas situações não se repitam e tentar construir uma sociedade melhor para as próximas gerações.

How Language Works, David Crystal





Li este livro para uma cadeira obrigatória na faculdade e achei-o bastante interessante. Sim, é uma leitura bastante diferente do costume, mas a verdade é que se não fosse a linguagem, como é que comunicaríamos? Crystal explica de forma concisa e fácil de entender, de que forma funciona a linguagem humana, que é a nossa principal ferramenta de comunicação uns com os outros, a forma como se vai desenvolvendo na primeira infância, e tudo o mais a ela adjacente. É uma leitura que aconselho a titulo de curiosidade.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Pedaços de Escrita #5






O sol da manhã sobre o rio é uma bela visão da ponte. Mas hoje o céu está cinzento-escuro e chove com força. Bem, pelo menos a chuva parece ter vindo na altura certa; apenas o ar continua tão quente. Vejo pela janela as pessoas a descerem e subirem a rua com os guarda-chuvas a protegerem-lhes a cabeça. Tento escrever, mas sinto-me com preguiça para o fazer. Talvez amanhã ou no dia seguinte ou talvez esta noite, quem sabe. Entretanto o mundo segue o seu curso e eu espero que a adrenalina venha e me faça escrever numa fúria quase sem parar.

Pedaços de Escrita #4






Um murmúrio no vento, um arrepio pela espinha acima! É rápido e lento ao mesmo tempo. Breve e persistente. Como é, que forma tem, não sei. Só sei que me chama de longe, como de dentro das memórias de um sonho ou de um sonho dentro de um sonho. A princípio fingi não ouvir a incessante cantilena; mas um não-sei-quê de curiosidade despertou em mim e larguei tudo. O conhecimento prévio ficou momentaneamente esquecido e à minha frente estendia-se o mundo por descobrir! A aventura foi breve, mas valeu a pena, só para ter aquela sensação de descobrir o que já sabia, de encontrar o inesperado a cada dia e poder sonhar de olhos abertos ao olhar pela janela.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Pedaços de Escrita#3






- Basta um salto de fé - disse me ele, muito gentilmente.
- Bem, eu ainda não estou pronta para dar esse salto - foi a minha resposta.
- Porquê?
- Porque eu não tenho fé suficiente - disse eu, olhando para o outro lado.
- Não faz mal, tê-la-às quando for o momento - disse ele a sorrir.
- Como é que tu sabes?
- Sei.
E permanecemos em silêncio, olhando um para o outro. Então os nossos dedos entrelaçaram-se, assegurando-me que correrá tudo bem.

Pedaços de Escrita #2






- Posso dançar no teu coração e colar-me à tua alma? - perguntou-me a menina.
- Como assim? - disse eu confuso.
- Oh, tu sabes, ficar contigo para sempre - disse ela, os olhos muito brilhantes.
- Sim, podes - sorri eu - Mas tu já lá estás, no meu coração.
- Estou?
- Estás.
Ela sorriu em resposta, riu sonoramente e correu para o pôr-do-sol. Depois simplesmente parou, agarrou a minha mão e caminhámos junto para casa.

Pedaços de Escrita #1





Escrever é algo complexo e nem sempre funciona de acordo com a vontade do escritor. Tem a sua própria forma de desenvolvimento, umas vezes rápido, outras vezes lentamente. Mas no fim alcança o objectivo, nem sempre na perfeição. Escrever é uma arte, um dom que apenas alguns sabem como usar. É algo que requer treino e esse treino é feito através da escrita, corte, reescrita e leitura. Oh, sim, a leitura é a base primeira do processo, porque através da leitura o vocabulário é melhorado e consequentemente a escrita. Assim que este processo começa, melhor o escritor se torna.

O escritor, muitas vezes incompreendido, é aquele que detém o dom das palavras. Conhece-as, abraça-as, usa-as como forma de contar histórias, escrever poesia, pensamentos ou ideologias, com o intuito de fazer as pessoas pensarem sobre o que as rodeia e olhar para a vida de um ponto de vista diferente. O escritor está preparado para lidar com o, frequentemente, frustrante mas também maravilhoso processo de escrever. Pode ser frustrante, porque a inspiração é uma criatura rara que não se deixa apanhar facilmente e o escritor tem de esperar que ela apareça e seja favorável aos seus propósitos. Além disso, a mente do escritor pode ser vista como estranha, excêntrica ou até confusa e incompreensível para as pessoas. Mas é isso que torna o escritor diferente das pessoas comuns e enquanto os outros continuam a queixar-se de quão aborrecidas e "normais" as suas vidas são, o escritor vive em muitos mundos ao mesmo tempo.

Por isso, toda a gente tem o seu dom ou arte especial que provavelmente aguarda para ser descoberto e trabalhado para que o mundo o possa ver. O meu é a escrita e através dele, deixo o meu legado em palavras. Eu sou uma escritora com imaginação ilimitada, vivo com um pé na realidade e outro noutro lado qualquer e a sonhar de olhos abertos; tenho uma mente naturalmente caprichosa. Tenho a liberdade de ser excêntrica, porque sou uma criadora de mundos e todo o processo de criação é excêntrico.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Entre o Agora e o Nunca, J. A. Redmerski





Quantas vezes imaginamos como seria bom fugir do quotidiano rotineiro que a sociedade nos impõe e viver de acordo com a nossa liberdade? Viajar simplesmente sem destino, ir onde a vida nos levar? Não tenho palavras para descrever este livro! É pura e simplesmente uma excelente narrativa, impossível de pousar por um só segundo, e arrebatadora desde o início ao fim. A caracterização dos protagonistas é perfeita e o enredo desperta-nos as mais variadas emoções. Uma história que fala de amor, erotismo, lealdade e identidade de uma forma directa e vivida, a relação entre duas pessoas que à partida, nada têm a ver uma com a outra, mas que se cruzam por força do destino e que não desistem uma da outra, mesmo quando a vida lhes tenta trocar as voltas. É sem dúvida uma excelente narrativa para reler vezes sem conta.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Obrigada pelas Recordações, Cecelia Ahern





Mais uma vez, Cecelia Ahern esmerou-se na elaboração deste romance, onde o real e o imaginário se cruzam sempre da maneira característica da autora. O que acontece a Joyce podia acontecer a qualquer pessoa, se uma transfusão se sangue foi mais do que o que realmente é. Como é seu hábito, Ahern faz-nos sentir um turbilhão de emoções com cada um dos seus romances, mas sempre diferencia as lições a tirar de cada história; aqui, diria que talvez nem sempre uma coincidência seja só uma coincidência e por vezes, as oportunidades pela quais ansiamos se encontrem mesmo debaixo do nosso nariz e compete-nos a nós, não as desperdiçar. Há ainda outra coisa que considero importante reter, que é o facto de que na maior parte das vezes, estamos de tal modo agarrados ao que conhecemos e sabemos estar mal, que nos falta a coragem de enveredar por outro caminho, visto que as situações dolorosas são muito difíceis de enfrentar e quando nada quotidiano faz sentido, tentamos tirar sentido de coisas quase impossíveis de acontecer. Esta autora tem o dom de continuar a surpreender-me e cada vez aprecio mais a sua escrita fluída e leve, que proporciona uma leitura descomprimida, mesmo referindo assuntos tão sérios que fazem parte do nosso quotidiano enquanto pessoas.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Livros novos!























Acontece que tive a sorte de passar em Portimão na precisa altura em que se realizava uma feira do livro e arrecadei mais estes dois para a minha biblioteca em constante crescimento. Serão estas as minhas próximas leituras, após a segunda leitura de A Máscara da Raposa, a comentar aqui no blog. Votos de bom Verão e boas leituras! Bem-haja!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Harry Potter, J.K.Rowling





Como não poderia deixar de ser, partilho agora convosco, a minha opinião sobre a saga que fascinou toda uma geração, que atingiu o sucesso inesperado num curto espaço de tempo e que continua a inspirar crianças e jovens em todo o mundo. Considerada a obra-prima de J. K. Rowling, Harry Potter é sem dúvida uma das melhores obras da literatura juvenil. Ainda me lembro do furor causado pelo primeiro livros entre os meus colegas de escola e sei que acabei por pedi-lo como prenda de Natal; li os primeiros três entre os nove e os dez anos e, por qualquer razão, só dei continuidade à leitura aos catorze ou quinze anos. O facto é que o universo fantástico criado por Rowling é inigualável, tal como acontece com outros grandes escritores. O rumo dos acontecimentos de um livro para o outro sucede-se a um ritmo alucinante, que suscita no leitor os mais diversos sentimentos: empatia, aversão, suspense, curiosidade, etc; para não falar no role de personagens, tão diferentes umas das outras como o dia da noite, que a autora criou. Está longe de ser uma história romanesca, sendo antes uma história de coragem, amizade, amor e sacrifício, mas também de lealdade e heroísmo; a história de um rapaz que sobreviveu contra todas as probabilidades à maior das crueldades e se tornou um herói para o mundo dos feiticeiros.

domingo, 3 de agosto de 2014

A Saga das Ilhas Brilhantes, Juliet Marillier





Esta obra foi, de facto, a primeira coisa que li de Juliet Marillier e já na primeira leitura, a história de Eyvind e Somerled, me suscitou sentimentos diferentes, não só por causa da estranha e improvável amizade que se estabelece entre dois rapazes tão diferentes, mas também devido às lições que nos ensina: que por vezes o nosso rumo não é aquele que almejamos, mas sim aquele que a sorte nos reserva, que em tudo deve existir equilíbrio, que é necessário lutar pela verdade independentemente dos sacrifícios e reconhecer o valor da vida e do amor. Por outro lado, adoro a simplicidade do relacionamento de Eyvind e Nessa, que é tão natural, tão puro e tão forte apesar das diferenças culturais que os separam, que desejamos que o mesmo aconteça na realidade.




Num ritmo mais rápido do que a narrativa anterior, a narrativa de Máscara de Raposa situa-se dezoito anos depois e dá vida aos filhos dos dois amigos: Thorvald e Creidhe. Ao contrário do volume anterior, esta obra trata de uma demanda em busca da própria identidade, uma viagem ao desconhecido que transforma  não só os dois amigos, mas também as personagens que os circundam. Também aqui surgem sentimentos diversos em relação a certas personagens, mas mais do que isso, há uma certa continuidade das lições transmitidas no livro anterior. Pode não ser do meus preferidos, mas o certo é que temas como amizade, amor, lealdade, sacrifício, etc, estão fortemente presentes e compõem esta história como só Juliet Marillier sabe fazer.

terça-feira, 8 de julho de 2014

O Olhar do Açor, Sandra Carvalho





Depois da fantástica Saga das Pedras Mágicas, Sandra Carvalho apresenta-nos Crónicas da Terra e do Mar, centrada na época histórica dos descobrimentos portugueses, conectando fantasia e realidade numa história emocionante, com o século XV como pano de fundo. Neste primeiro volume, O Olhar do Açor, a autora dá-nos a conhecer um role de personagens que imediatamente amamos ou odiamos, no ritmo vivido tão característico da sua escrita, provando a sua versatilidade. Repleto de "intriga, ganância, amor, paixão e uma aura de misticismo", este é, de facto, um grande romance, de uma grande autora portuguesa, a prova de que high fantasy português tem vindo a estabelecer o seu valor. Dado que é impossível ficar indiferente ao destino das personagens de Sandra Carvalho, confesso que mal posso esperar pelo desenrolar desta narrativa tão particular. Impossível não ler de um fôlego!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Princesa que Acreditava em Contos de Fadas, Marcia Grad





São poucos os livros com que me identifico emocionalmente e este é um deles. Não sei explicar, mas de alguma forma, revejo parte da minha personalidade fantasiosa na protagonista e por várias vezes dou por mim a colocar as mesmas questões. É, sem dúvida, uma excelente reflexão sobre a importância do amor e da distinção entre fantasia e realidade, que provoca no leitor a necessidade de analisar certos aspectos da sua vivência, mas também proporciona uma leitura agradável, cheia de humor. Numa escrita fluída e simples, Marcia Grad apresenta-nos uma narrativa enternecedora que nos ensina o valor da introspecção, não só em relação a nós próprios, como também na nossa relação com o outro. Muitas vezes, são estas "historietas" as que nos ensinam as maiores lições.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Ida à Feira do Livro!





Hoje passei na feira do livro para espreitar as novidades, mas sobretudo para aproveitar os preços da feira e o resultado foi este: as duas primeiras leituras de Verão! O da esquerda de uma autora portuguesa de que gosto muito e já tive o prazer de conhecer há dois anos nesta mesma feira e o da direita parece bem sugestivo para quem gosta de uma boa leitura. Gostaria de ter podido adquirir mais, mas não foi mesmo possível diminuir mais a lista que parece não minguar! E vocês, já lá foram? Aproveitem e já agora, não se esqueçam de participar na campanha de recolha! Bem haja!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes, Augusto Cury





Li este livro há já alguns anos e apesar de não ser o estilo habitual, confesso que me fascinou de um modo que não sei explicar. É simplesmente diferente. Augusto Cury apresenta-nos aqui uma importante reflexão sobre a educação como forma de transformar a sociedade, salientando a importância de incutir hábitos de reflexão, de modo a desenvolver a consciência crítica, a responsabilidade, a capacidade de decisão, a tolerância e, mais do que isso, a capacidade de sonhar e acreditar em si próprio. Apesar de baseado no drama real da escola de Beslan, na Rússia, é um livro que considero de leitura imprescindível, sobretudo para mais novos, para quem foi realmente escrito, considerando que assistimos ou ouvimos falar de situações muito semelhantes quase todos os dias. 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

As Crónicas de Nárnia, C. S. Lewis





Descobri As Crónicas de Nárnia em plena adolescência, depois de todo o êxito que teve a primeira adaptação cinematográfica (do segundo volume, para quem não sabe) e apesar de tudo já os li umas duas vezes, o que é coisa rara; simplesmente gosto de uma boa história de fantasia. Mas não se trata de simples fantasia e sim, de um misto entre conto fantástico, mitológico e de cavalaria, e mito cristão (embora velado está lá, basta saber o que procurar). Escritas de maneira simples, as crónicas narram as aventuras de crianças do mundo real que encontraram Nárnia, uma terra mágica onde nada é o que parece e à qual não se chega duas vezes pelo mesmo caminho. Não creio que alguém a tenha encontrado mesmo ou venha a encontrar, mas a verdade é que precisamos de histórias, tal como precisamos de ar, nem que seja só para passar o tempo. De certeza que os mais pequenos vão adorar se ainda não as leram, afinal, esta obra foi escrita para crianças.

Sapatos de Rebuçado, Joanne Harris





Já tinha ficado encantada com o enredo de Chocolat, mas o ritmo inquietante de The Lollipop Shoes, deixou-me de respiração suspensa, devido à reviravolta que a vida das personagens principais levou. No mesmo registo cativante, neste segundo volume, passados quatro anos depois de Lansquenet, Vianne e Anouk deparam-se com uma escolha entre fugir e lutar e o resultado é surpreendente. Um novo cenário, um novo desafio, uma nova vitória, novas revelações. Sem esquecer a pequena Rosette, tal como Anouk, uma das melhores personagens criança com que me deparei até agora, apesar de ter uma intervenção menos directa. Mais uma vez o amor (e o chocolate) vencem o vento do inverno. Para quem é fã de bons romances e desta autora em particular, recomendo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Queda de Arthur, J. R. R. Tolkien





Quem afirma que Tolkien foi um grande mestre da palavra escrita decerto não se enganou, porque de facto o trabalho envolvente neste poema (inacabado) é excelente. É certo que existem demasiadas "tradições" ou fontes, demasiadas especulações sobre as lendas arturianas sem que haja consenso entre as mesmas. A forma como o autor decidiu abordar a temática arturiana é, como sempre, muito própria e o facto de escrever o poema no estilo aliterativo, aparentemente arcaico e em desuso, o que obviamente requer um muito maior esforço e dedicação do que outro tipo de texto. Os comentários, observações e notas de Christopher Tolkien em relação a este trabalho inacabado são extremamente interessantes, não só pela contribuição para a compreensão do texto em si, mas também porque traduzem a noção da progressão do trabalho do seu pai. Creio que se Tolikien tivesse terminado este poema, o resultado só poderia ser excelente. 

84ªFeira do Livro de Lisboa 2014!





E está quase, quase a chegar mais uma feira do livro de Lisboa! Com certeza, repleta de novidades e boa-disposição! Não deixem passar esta oportunidade de adquirir novas companhias e aventuras para um Verão repleto de boas leituras. A leitura continua a ser parte fundamental da cultura de qualquer pessoa, além de ser uma actividade relaxante para o cérebro e uma excelente forma de ocupar os tempos livres; por isso recomendo vivamente que seja incentivada desde cedo! 

Leitura de livros digitais não substituiu leitura em papel!



Ora aqui está uma boa notícia:

Leitura de livros digitais não substituiu leitura em papel


"Estudo Internacional conclui que há mudança de paradigma, mas livro em papel continua a dominar

A leitura de livros em formato digital não substituiu a dos livros em papel, mas há uma mudança do paradigma de leitura por causa da Internet, concluiu um estudo português, de âmbito internacional, a divulgar hoje.

Algumas conclusões do estudo, iniciado em 2011, serão apresentadas hoje na Conferência Internacional de Educação, na Fundação Caloste Gulbenkian, em Lisboa, pelo investigador Gustavo Cardoso.

O estudo foi desenvolvido pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) e tem por base um inquérito feito em 16 países, incluindo Portugal, "sobre o que significa ler" na actualidade e como é que os utilizadores de Internet lêem em papel e em digital.

No caso de Portugal, a existência de grandes leitores em formato digital é ainda "incipiente", quando comparada com os restantes países incluídos no inquérito.

Apenas dez por cento dos inquiridos portugueses disseram ter lido mais de oito livros em formato digital ao longo do último ano, quando a amostra global do inquérito se situou nos 30 por cento.

"Tentou-se mapear a mudança. Como é que as pessoas estão a ler hoje, por via de terem adoptado, como forma de leitura, os ecrãs. Quais são as tendências de transformação que estão a tocar as bibliotecas e a relação com este tipo de leitores", antecipou Gustavo Cardoso, aos jornalistas.

No que toca ao mercado livreiro, o investigador referiu que em Portugal "quem está no sector joga à defesa" quando se fala em investimento no livro digital, e que não existe "uma estratégia comum a todos os editores".

O inquérito internacional também permitiu concluir que a leitura digital, em múltiplos suportes - telemóveis, 'tablets', computadores - coexiste com a leitura em papel e que o objecto de leitura inclui, além de livros e jornais, textos em blogs, correio electrónico ou mensagens partilhadas em redes sociais.

Segundo os investigadores do CIES, quem mais lê em digital é também quem mais lê em papel e o leitor actual "lê, escreve e partilha" perante uma comunidade.

O inquérito internacional revela ainda que os que dizem ler livros em formato digital têm um maior nível de escolaridade e relacionam leitura e prazer mais com livros em papel do que em digital.

Os dados permitem ainda verificar que ler livros e jornais em digital é uma actividade tão individualizada quanto a leitura em papel e que os leitores do digital valorizam, por exemplo, a possibilidade de aceder a um motor de busca para pesquisas.

O inquérito foi realizado em países como China, Índia, Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Brasil, México, África do Sul, Egipto e Austrália.

Os dados estatísticos permitem perceber, por exemplo, que no Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul há mais leitores que leram um livro em digital (79%) do que na Europa (43% - Alemanha, França, Itália, Espanha, Reino Unido e Portugal).

O projecto, cujos dados finais deverão ser disponibilizados no final do ano, foram coordenados pelo investigador Gustavo Cardoso no CIES do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, em parceria com a Fundação Caloste Gulbenkian. Da equipa de investigadores chegou a fazer parte Jorge Barreto Xavier, actual secretário de Estado da Cultura.

Lusa

28/10/2013"

sábado, 10 de maio de 2014

Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média, J. R. R. Tolkien





O universo da Terra Média é sem dúvida um sem fim de narrativas, como comprova esta edição compilada por Christopher Tolkien. Em Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média, são apresentadas partes de narrativas dispersas que o autor nunca concluiu e que focam acontecimentos maioritariamente anteriores ao 'Senhor dos Anéis, mas também contemporâneos e posteriores. Não costumo "aprimorar" conhecimentos relativos às obras que gosto; confesso que é curioso o que se pode compreender melhor com estas edições e mais acrescento que gostava de saber como terminariam estas narrativas se Tolkien as tivesse terminado.

domingo, 30 de março de 2014

Um Gato, um Chapéu e um Pedaço de Cordel, Joanne Harris





Esta colectânea de contos de Harris é simplesmente indescritível, uma das melhores que li até hoje. É fascinante como as coisas mais simples e mais verdadeiras podem ser tão estimulantes. Apesar do título invulgar (a autora explica o porquê na introdução) estes pequenos (não tão pequenos) contos são de leitura fácil, mas que nos fazem pensar nos pormenores que de certeza encontramos se olharmos em volta. Se me perguntassem quais as que mais apreciei, sem dúvida que responderia: "Apreciei todas, mas gostei muito de Fé e Esperança Voam para Sul, Dríade, Fantasmas na Máquina, Faça Você Mesmo, Musa e Fé e Esperança Vingam-se". Mais uma obra que recomendo vivamente e um must read para quem aprecia uma boa companhia.

Um Lugar Chamando Aqui, Cecelia Ahern





Alguma vez pensaram que poderia realmente existir um lugar para onde vão as coisas perdidas? Difícil, eu sei, mas é precisamente sobre isso que fala esta narrativa de Cecelia Ahern. A protagonista é obcecada por coisas perdidas, até que um dia também ela desaparece. Esta é talvez a histórias mais surreal que alguma vez li, mas é muito divertida. No fundo, Sandy Short (que é alta e de cabelo escuro, entenda-se a ironia) procura a sua verdadeira identidade, apesar de ser especialista em encontrar pessoas desaparecidas, mas o que era mais um caso que Sandy estudou a fundo, acabou por conduzi-la ao lugar mais inesperado de todos: Aqui, onde vão parar as coisas e pessoas desaparecidas. Irónico, encantador e repleto de humor, mas também que de algumas reflexões, este encantador romance prende-nos até ao fim com uma grande dose de boa disposição.

Se me pudesses ver agora, Cecelia Ahern





Esta é mais uma das encantadoras histórias de Ahern, não só pelo toque com que trata a temática do amigo imaginário, mas também pela escrita ternurenta da autora, que em cada livro nos apresenta uma forma diferente de encarar as peripécias da vida. Li-o há já alguns anos e não podia deixar de o comentar aqui. Elisabeth não teve uma infância fácil, mais a mais com o fardo de educar a irmã e cuidar do pai. Talvez devido ao abandono da mãe em tão tenra idade, Saoirse tornou-se problemática, causando um forte impacto na vida de todos à sua volta, sobretudo Elisabeth que de súbito se viu encarregue de criar o pequeno Luke, devido ao desequilíbrio da irmã. Sem dúvida uma história irreverente, que cativa o leitor da primeira à última página,e onde encontrar a felicidade poder ser mais fácil do que parece à primeira vista.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Dubliners, James Joyce





Depois de ler A Portrait of the Artist as a Young Man, tendo sido essa leitura o contacto mais aprofundado com a obra de Joyce, fazia todo o sentido ler também a sua colectânea de short-stories. Na minha opinião trata-se de uma leitura mais fluída, apesar de que alguns contos dão a ideia de terminarem numa narrativa aberta. Muitos deles dão que pensar, mas todos passam por histórias quotidianas que envolvem as diferentes gerações de habitantes de Dublin à época em que Joyce as escreveu, retratando a sociedade da transição do século. Com uma descrição fiel das ruas e avenidas que compõem a maior cidade irlandesa, bem como dos parques / jardins principais, passando por diferentes narradores e personagens. Confesso que de alguma forma todos estes contos me marcaram, mas tenho particular preferência por Eveline e A Mother.

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez





Li este livro pela primeira vez quando tinha nove ou dez anos. Não me lembro se foi porque o quis ler ou por ser leitura obrigatória na escola, mas sei que foi o exemplo mais figurativo do mundo da droga que alguma vez li. Creio que de certa forma o exemplo das personagens estabeleceu no meu inconsciente a ideia de que o "caminho da droga" é um caminho perigoso e errado. Porém, somente ao reler o livro me apercebi de determinados pormenores, talvez por ter passado tanto tempo e confesso que a minha primeira impressão se mantém. Compreende-se que por um lado o desgosto é normal quando se perde alguém, por outro há qualquer coisa no desgosto da Joana que a leva a desinteressar-se de tudo o que mais estimava e a enveredar por atalhos demasiado perigosos; claro que nada o justifica, porque a sua atitude se torna incompreensível, a mesma atitude que ela não era capaz de perceber nem perdoar à Marta e no espaço de quase dois anos, também a Joana destruiu a sua vida.

A Dama das Camélias, Alexandre Dumas (filho)





Há já algum tempo que tinha curiosidade em ler este livro e houve por fim ocasião para o fazer. Numa perspectiva narrativa muito diferente da que encontramos na escrita de Alexandre Dumas pai, A Dama das Camélias narra a triste história de Margarida Gautier, uma mulher cujo o estilo de vida lhe dava o título de "mulher da vida" ou de acompanhante de luxo à época em Paris, a par com a imagem da alcoviteira apresentada pela Sra. Devunoy.  No fundo, a narrativa retrata uma sociedade um tanto ou quanto ociosa, presa no vício e no exagero, mas é precisamente nomeio de tudo isso que surge um amor inconcebível, de um homem com o futuro pela frente e uma mulher que vive nos extremos do divertimento, do luxo e da luxúria, a qual acaba por abdicar desse mesmo romance, pelo qual se dispunha a prescindir da sua antiga vida. O estilo de escrita é diferente, mas fluído e rápido, percebendo-se as variações de perspectiva, sempre na primeira pessoa, e apesar de esta não ser uma obra que me tenha deslumbrado nem inspirado ou algo do género, também não me entediou. Creio que a realidade da vida que Margarida levava fosse quase banal na época, tão enraizado estava esse aspecto; igualmente não me parece que o autor tenda a criticar os maus hábitos da sociedade parisiense que o rodeava, antes limita-se a contar a história.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Menina Que Fazia Nevar, Grace McCleen






Se me pedissem para descrever este livro em poucas palavras eu responderia que é simplesmente uma ternura! Sim, isso mesmo, achei-o ternurento no modo como Judith observa o que a rodeia e lida com o lhe sucede diariamente. Uma narrativa diferente e inspiradora sobre a perspectiva de uma menina de dez anos cuja relação com o pai não é das melhores, mas acaba por melhorar. O fervor religioso a que Judith se acostumara leva-a a acreditar piamente que existirá um novo mundo, sendo ela uma menina que se entretém a construir um mundo em miniatura a que chama Terra de Leite e Mel. Quando esse mesmo fervor é finalmente posto de lado por ambos, quando a fé deixa de ser o centro do seu quotidiano, a sua relação com o pai começa a melhorar. Por outro lado, o bullying que sofre na escola é de alguma forma atenuado e  entende-se que deriva de maus ambientes familiares. Uma leitura reflexiva e tocante que prende do início ao fim e que nos faz questionar seriamente sobre o fanatismo religioso que ainda hoje encontramos em populações mais pequenas, bem como sobre o efeito do mesmo em crianças como Judith.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

A Voz da Terra, Miguel Real






Forte, fluída e simples, num estilo semelhante ao de Saramago, uma narrativa histórica diferente que narra uma das maiores catástrofes da nossa história. A Voz da Terra narra a passagem do fanatismo religioso absurdo que se vivia em Portugal no século XVIII para o racionalismo europeu, para abertura de Lisboa ao modernismo da época. No entanto, as personagens com que o leitor se depara são, na minha opinião, um tanto ou quanto estereotipadas, embora a ironia do autor não seja assim tão directa, mas que são bastante humana, sobretudo o protagonista. Mesmo não sendo o meu género favorito, e apesar das excessivas reflexões religiosas, confesso que é um boa leitura.