terça-feira, 21 de março de 2017

Very Good Lives, J. K. Rowling





Continuando na linha dos exemplos de realização, não poderia deixar de comentar aqui o discurso de J. K. Rowling como oradora na cerimónia de formatura da Universidade de Harvard, em 2008. O exemplo / experiência de vida desta autora é também um dos mais inspiradores, não só porque nos diz que o falhanço é necessário à nossa aprendizagem enquanto seres conscientes, mas também nos diz que é quando estamos no fundo do poço que descobrimos aquilo de que realmente somos capazes. Para além disso, reforça a ideia de que a nossa imaginação é algo precioso e que não deve, sob circunstancia alguma, ser descurada por ser a nossa principal ferramenta para mudar a realidade que os rodeia. O discurso de Rowling transmite nos ainda a noção de que, se inspecionarmos bem a nossa consciência, não há maior acto de humildade do que reconhecer os nossos falhanços como uma parte importante do processo de concretização dos nossos sucessos.

Verdade seja dita que para se viver uma boa vida basta dar o nosso melhor todos os dias ou, como dizia Fernando Pessoa (Ricardo Reis, 14-2-1933):

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


sábado, 18 de março de 2017

A Minha Pequena Livraria, Wendy Welch





Raramente leio biografias ou livros que sejam baseados em factos reais, mas este despertou-me à atenção por dois motivos: primeiro, porque é sobre livros e eu adoro ler, segundo porque se fala muito pouco do que é ser livreiro e o livreiro é uma peça fundamental  na ponte entre as pessoas e os livros. Recheado de peripécias, umas mais engraçadas, outras mais sérias, este pequeno livro conta como dois bibliófilos teimosos abriram e mantiveram uma livraria em plena recessão económica. Depois desta leitura tive a certeza de que gerir uma livraria é muito mais do que vender livros: é gerir toda uma pequena "comunidade" de interesses comuns.

Mas mais do que isso, este livro é um exemplo de coragem e de como nunca devemos desistir dos nossos sonhos, e também de como os livros têm um papel tão importante na nossa vida, não só porque nos trazem conforto em alturas difíceis, nos entretêm nas longas tardes de Verão, nos enriquecem vocabularmente, mas também porque é através dos livros que nos descobrimos a nós e aos outros. Indo de encontro ao que disse no post anterior, este livro só veio confirmar a minha perspectiva de que a literatura é um dos nossos pilares fundamentais. Cabe-nos a nós, leitores e escritores, mantê-la viva para que as gerações vindouras sejam tão ricas quanto nós.

Reflexões #7 - Reconhecimento do Escritor





Um começo aqui, outro ali; seja o que for que um escritor escreva há, provavelmente, inúmeros começos espalhados pela sua infindável acumulação de notas e apontamentos. Mesmo que uma história comece de determinada maneira, nada garante que esse começo não venha a ser alterado. E o mesmo acontece com o final, ou seja, um romance nem sempre termina da forma que o escritor idealiza.

Por vezes, também acontece não existir princípio antes de se ter alcançado o final. É desta forma que a minha escrita tende a processar-se: a ideia geral ou principal parte do meio da história para o fim, fazendo-me contorcer e retorcer o cérebro à procura de um começo adequado. Há já algum tempo referi que a escrita não é um processo linear, mas sim feito a partir de avanços e recuos, sendo estes avanços conseguidos com a ajuda de uma pitada de inspiração conjugada com força de vontade e trabalho árduo.

Sinceramente, só mesmo quem não tem gosto pela escrita pode pensar que escrever um livro, seja qual for o género, é uma tarefa fácil. Muito pelo contrário, escrever é, maioritariamente, algo lento e moroso. No entanto, é gratificante para quem escrever, ver o seu trabalho meritoriamente reconhecido. Quando falo em reconhecimento, não me refiro a escrever "uma galinha dos ovos de ouro" literária que gere uma fortuna imediata (um bónus que nem todos conseguem ou merecem alcançar), mas ao facto de a obra ser lida, falada e apreciada. Alcançar este tipo de reconhecimento tornou-se, na minha modesta opinião, um feito difícil e conseguir na sociedade consumista e narcisista em que vivemos hoje. Há uma enorme tendência para a bajulação a troco de um momento de fama, ou seja, existe uma aproximação aos autores que muitas vezes tem como único fundamento dizer que se conhece tal autor.

É frustrante, do ponto de vista de ser escritora, tomar consciência de que muita gente não faz ideia daquilo que implica trabalhar na arte de escrever. E talvez seja por isso que desvalorizam o esforço que quem escreve empreende no desenvolvimento e aprimoramento desta arte. Mas o que importa é aquilo que dizia inicialmente: o trabalho de um escritor depende dos seus começos, dos seus falhanços, das suas conquistas e do merecido reconhecimento pelo seu contributo para um dos pilares da nossa cultura. Porém, enquanto não houver um maior entendimento e interesse relativamente à escrita e, consequentemente, à literatura, será difícil para alguns escritores (sobretudo da nova geração) obter o devido reconhecimento pelo seu trabalho.