sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

F*ck! I'm in my Twenties, Emma Koenig





Depois da minha última leitura, este pequeno livro não podia ser mais assertivo quanto à confusão que se instala na cabeça da maioria dos jovens adultos, durante e após a faculdade. Afinal o que é ser adulto? Esta é a grande questão à qual ninguém nos pode responder para além de nós próprios. E a verdade é que só descobrimos como ser adultos ao aprendermos com os nossos erros e más decisões. No fundo, o grande "drama" dos 20s é o facto de despertarmos da noção fantasiosa e infantil sobre o que é ser adulto, uma vez que é quando nos deparamos com a realidade em primeira mão. Acho que a Emma acabou, eventualmente, por ultrapassar a sua autocomiseração, embora com muito esforço. Somos todos diferentes e não me sinto exactamente como ela, mas compreendo a frustração e a irritação que descreve em alguns episódios, porque continuo a sentir-me como uma miúda e interrogo-me frequentemente: "O que estou eu a fazer?". Em suma, creio que ninguém (ou quase) da minha geração saiba exactamente o que está a fazer ou que se sinta totalmente realizado aos 20 anos. Resta-nos ir vivendo um dia de cada vez e fazer o melhor que somos capazes para sermos felizes. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Robinson Crusoe, Daniel Defoe





Este começou por ser mais uma das minhas leituras obrigatórias da faculdade e, como tal, acabou por perder o interesse na altura. Mas como os clássicos são sempre os clássicos, achei que estava na altura de lhe dar uma oportunidade. Não é mau, mas também não acho que seja um ex-libris literário. Aquilo que começa por ser um acto de rebeldia e aventura, rapidamente se transforma numa longa penitência. Contudo, o protagonista contorna a sua situação desesperada numa vida razoavelmente confortável, inventando e construindo quase tudo de raiz. Robinson torna-se caçador, agricultor, construtor, pastor, etc., para poder sobreviver na ilha. Além disso, o passar dos anos torna-o cauteloso, mas não elimina a esperança de uma dia sair da ilha e quando se lhe apresenta essa oportunidade não hesita. É mais uma daquelas narrativas que nos mostra quão tolos corrermos o risco de ser quando somos novos e como, muitas vezes, só alcançamos o arrependimento face à impetuosidade juvenil muito mais tarde na vida. Esta história faz-me lembrar, em certa medida, a parábola do Filho Pródigo; e embora Robinson regresse a uma casa deserta após 35 anos de ausência, é capaz de reconstruir a sua vida na sociedade. Tal como ele, muitas vezes recusamos ouvir os conselhos dos mais velhos e, ao agir consoante a nossa vontade, acabamos por nos perder na ironia intrínseca da vida, cujas circunstâncias nem sempre nos cabe a nós controlar, por isso há que reflectir bem nas nossas acções e nas suas consequências.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Reflexões #4 - Expectativa





Mais um ano que se aproxima do fim, mais um capítulo do grande livro da vida que se fecha. Mais um ano de expectativas e reviravoltas, finais e recomeços. Gostaria de poder dizer que se tratou de um grande ano, mas não estaria a ser sincera, porque esteve muito longe de ser perfeito. Claro que não existem anos perfeitos, mas existem anos bons e, apesar de tudo, posso dizer que este foi um ano razoável.

Por hábito ou por tradição, Dezembro é sempre um mês propício a reflexões e introspecções. Por isso, vejamos: este poderia ter sido um ano melhor para o blog se eu tivesse tido a oportunidade de ler e escrever mais; e no âmbito geral poderia ter sido um ano melhor se eu tivesse feito tudo o que desejava ter feito, o que é um grande "se", porque a vida é feita de contrariedades, as quais nem sempre podemos controlar, pelo que devemos aprender a viver com as escolhas que fazemos.

Por outro lado, a generalidade das pessoas esquece-se do que é realmente importante, vendo esta altura como uma mera oportunidade para dar aso à sua tendência materialista. É nesta altura que mais se reflecte a crise de valores que a nossa sociedade atravessa. A questão é que todos falam, mas ninguém age, ninguém puxa pela mudança e a mudança não chega. Ninguém põe quanto é no mínimo que faz e, por isso, ficamos entregues a este marasmo capitalista.

Nos dias que correm existe muito pouco espírito natalício, sobretudo nas grandes áreas urbanas, o que se traduz no consumismo exagerado que presenciamos durante este último mês do ano. Já ninguém se recorda ou mantém as tradições, transformando o Natal numa coisa impessoal, quando esta devia ser a altura mais reconfortante, familiar e pessoal do ano. E se Dezembro traz a indolência do Inverno, a inactividade, o excesso materialista, traz também a ténue esperança de que o ano seguinte seja melhor que o ano corrente. Oxalá que seja!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Pedaços de Escrita #52





Quando falamos em sorte, será cliché considerar um arco-íris um sinal de boa sorte ou será uma mera superstição fantasiosa? Depende daquilo em que se acredita, claro, e, possivelmente são muitos aqueles que crêem tratar-se de uma noção infantil e folclórica. Mas e se houver realmente alguma verdade naquela história de que existe um pote de ouro escondido na ponta do arco-íris? Talvez sim, talvez não, não sei; mas todos acreditamos em qualquer coisa, nem que seja somente que há qualquer força que foge ao nosso entendimento, mesmo que não compartilhemos as mesmas crenças.

É do senso comum que existem certas coisas ou situações que não sabemos nem conseguimos explicar e essas ocorrências estranhas que cruzam o nosso caminho constantemente são apenas desvendadas por quem tem a coragem de acreditar. Além disso, são tantos os pequenos símbolos que usamos como amuletos da sorte... Coincidência, ou não, acabou de passar por mim uma fada montada num unicórnio, na direcção do arco-íris. Provavelmente vai à procura do pote de ouro ou então vai somente encontrar-se com um duende e ser feliz, quem sabe?

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Reflexões #3 - Mudança






Mahatma Gandhi disse um dia: "Sê a mudança que queres ver no mundo"; e, para ser sincera, creio que ele tinha razão ao dizer isto, porque se queremos que o mundo mude, temos de começar por nós próprios. No entanto, não me parece que seja assim tão fácil fazê-lo, ou será que é? A verdade é que há muita coisa a acontecer à nossa volta, pequenos momentos que compõem um momento maior de possível realização, mas como estamos tão focados num sistema que nos consome a atenção e a energia, não nos damos conta de que não vivemos esses momentos na sua plenitude.

Esta semana assisti a uma palestra sobre Talento e Superação, dada por Leila Navarro, que me deixou a pensar que, de facto, não estou a fazer quase nada para atingir os meus objectivos. Ao reflectir nisto apercebi-me de que o meu modo de encarar a vida é um tanto ou quanto pessimista e se realmente quiser chegar a algum lado, tenho de transformar a minha linha de pensamento. Com esta palestra percebi que todos temos o poder de sermos felizes e de realizar os nossos objectivos; para isso basta ter força de vontade e fazermos acontecer.

Para além disso, esta palestra forneceu-me algumas ideias sobre as quais ponderar e que, inexplicavelmente, se adequam muito bem a esta fase da minha vida, sendo que questiono frequentemente qual será o melhor rumo para mim. São "abanões" destes que precisamos de vez em quando para seguirmos caminho e não estagnarmos onde não queremos estar. Assim, aprendi que:

- Pessoas felizes tomam decisões rápidas e conscientes;
- Ao aprendermos, mudamos algo em nós e criamos uma nova realidade;
- Devemos agradecer e agarrar as oportunidades que a vida nos dá;
- Temos de mudar paradigmas mentais como "Eu e tu", em vez de "Eu ou tu";
- Ser inteiro significa criarmos a nossa própria realidade;
- Temos de ser receptivos a novas ideias, ou seja, manter a "caixa" aberta;
- Devemos procurar perspectivar os problemas distanciando-nos dos mesmos;
- Devemos procurar praticar o minimalismo;
- São as pessoas que fazem a diferença, dando e recebendo na mesma medida;
- Entendermos e respeitarmo-nos como únicos significa respeitar o outro;
- Sonhar é importante, porque nos dá um sentido maior na vida pelo qual lutar;
- O nosso rumo implica fazer escolhas e ser responsável por essas escolhas;
- Devemos ter em conta qual a relevância daquilo que fazemos para nós próprios;
- Devemos esperar o inesperado - agir e pensar como se tudo fosse uma estreia na nossa vida;
- E que Nada Muda se Eu Não Mudar, ou seja, temos de fazer acontecer!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Reflexões #2 - Objectivos






Não sei explicar porquê, mas, para mim, o Outono sempre foi a altura mais inspiradora do ano. Talvez por causa do colorido das folhas das árvores ou das várias mudanças que ocorrem nesta altura. Sempre senti que alguma coisa estava para acontecer, como se houvesse um constante mistério no ar, para além de que as temperaturas se tornam mais amenas, os dias vão diminuindo e há um certo abrandamento biológico que traz uma sensação de tranquilidade quase absoluta.

Por outro lado, é a estação durante a qual me dá mais vontade de escrever. Assim, decidi aproveitar ao máximo esta energia outonal e terminar alguns contos que tenho estado a escrever. Com estes mesmos contos vou compor um colectânea, que espero conseguir publicar; a par deste projecto compilei uma antologia poética com todos os poemas que escrevi até este ano. Qual dos dois projectos irá para a frente primeiro ainda não sei, mas espero que saiam os dois da gaveta rapidamente!

Depois disso, quero agarrar no romance em que ando a trabalhar, já lá vão uns anos, e endireitá-lo para o poder apresentar também às editoras. É muito complicado terminar alguma coisa quando não nos podemos dedicar de corpo e alma, mas felizmente não é uma história que me faça perder o interesse facilmente, porque quero muito vê-la ganhar forma e partilhá-la convosco.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A Torre de Espinhos, Juliet Marillier





Após a resolução do mistério do Lago dos Sonhos, Marillier apresenta-nos mais uma demanda "espinhosa", ao longo da qual ambos os protagonistas desta nova série se vêem enredados numa teia de dissimulações e meias-verdades perante uma história sobre uma maldição sobre a qual ninguém ouviu falar. Uma narrativa repleta de intriga, mistério, dilemas e decisões difíceis, que nos prende e mantém suspensos até à última página e onde o storytelling se mistura com o tempo da história em si. Uma continuação fantástica para uma história surpreendente, cuja intensidade emocional e carismática a que a autora nos habituou, se reflecte na evolução dos protagonistas. Blackthorn e Grim carregam fardos pesados e ao disponibilizarem-se para resolver o enigma da Torre de Espinhos, ambos empreendem uma dura luta interior face a todas as escolhas que têm de enfrentar. Mas no fim, a sua estranha amizade prevalece acima de tudo. O que será que os espera, depois de tão dura provação?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Reflexões #1 - Nostalgia





Desde que me lembro, Setembro era um mês de excitação, ânimo e expectativa por causa do recomeço das aulas. Sim, eu sempre fui daquelas meninas que anseiam por regressar à escola, não porque tivesse amigos para rever, mas sim porque gostava muito de aprender. E, por isso, a meio de Agosto já estava cansada de férias, imaginem! Agora, Setembro suscita-me uma certa nostalgia em vez de excitação, mas também uma forte sensação de mudança e um apelo à reflexão.

Por exemplo, estava aqui a pensar que há quatro anos, quando comecei este blog, tinha expectativas completamente diferentes das que tenho hoje em relação ao mesmo. Confesso que, inicialmente, me senti aborrecida por não ter tanta visibilidade quanto desejava, mas aprendi a ter paciência e a não dar tanta importância a esse facto. Ainda assim, gostava que se interessassem mais e estou sem recursos para chamar à atenção das pessoas; enfim, gostos e cores não se discutem e não posso obrigar ninguém a gostar do que escrevo.

Para este mês, espero manter as minhas expectativas bem niveladas para não ter nenhuma decepeção (já as tive que chegue ao longo da minha vida de estudante!). Desejo apenas conseguir ler e escrever mais, actualizar o blog com maior regularidade e encontrar um rumo favorável para esta etapa da minha vida que está agora a começar. Esta nova rúbrica talvez seja um bom ponto de partida, o tempo o dirá.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Pedaços de Escrita #51





Agosto era aquele mês quente em que não havia pais. Era o mês da liberdade, da descoberta, da inovação; quando as tardes eram passadas entre o pó dos caminhos da quinta e as brincadeiras de faz-de-conta. Era o mês da nostalgia ao pôr-do-sol, que parecia tão longo. Agosto era aquela parte das férias que se regia pelas regras da avó, em que estava tudo bem e não havia pressa. Era o mês dos filmes nas tardes de fim-de-semana, com a sala às escuras por causa do calor; das tardes dos bordados, das contas de parcelas intermináveis e longas horas de leitura. Era o tempo de reflexão ao sabor do roçagar dos pinheiros à passagem do vento ou ao som dos gritos das águias e dos cucos.

Agosto tinha o sabor da infância e agora apenas restam as memórias que o transformaram no mês fantasma e letárgico, aquele momento em que o tempo pára para que se oiçam os ecos dos risos, das histórias e dos momentos partilhados; os ecos de tudo o que se perdeu nos entretantos da vida e que faziam deste, o mês em que imperava a calmaria da liberdade e a ferocidade da esperança e dos sonhos. Ah, como foi bom ser criança no mês de Agosto!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Pedaços de Escrita #50





Cheira a corpos suados no ar cálido e penumbrento do quarto, resguardado do calor da tarde pelas portadas fechadas. Os nossos corpos movem-se ritmicamente em vibrações compassadas, por entre respirações ofegantes, beijos e carícias. Não é simplesmente luxúria, mas a necessidade de sintonia e união, de pertencer e amar o outro. Depois caímos naquele silêncio cúmplice e trocamos um olhar parado no tempo, como se tudo o resto deixasse de existir e fôssemos as únicas pessoas no mundo.

O Amor é assim: único para cada pessoa, envolto em mistério, em paixão e sensações diversas, que se tornam inexplicáveis. Mas o Amor físico é simples de entender, é tão natural ente dois amantes, porquê condená-lo? O Amor é, talvez, a única coisa lógica que resta no mundo, mas são raros aqueles que aprendem a concretizá-lo, porque a maioria das pessoas rende-se aos vícios, ao egoísmo, à mesquinhez e à ganância, quando o Amor é a força motriz da realização e da felicidade.

É preciso arriscar o Amor para viver em pleno, mas só os mais audazes se atrevem a fazê-lo e foi o que fizemos: arriscámos ser parte um do outro e conquistámos o Amor ao cultivar a harmonia entre as nossas diferenças, amando-nos naqueles momentos que são só nossos e constituem a nossa história.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Pedaçõs de Escrita #49





O grito ecoa na escarpa nua, um som indefinido, que não é nem de dor nem de júbilo. Nada se ouve para além do trovejar do mar a bater nas fragas. E nada se revolta na quietude da floresta imersa em sombras. A aridez da encosta rochosa contrasta fortemente com a mescla colorida do azul profundo do mar e do verde luxuriante da floresta.

A areia da praia é branca e fina como farinha e a rebentação um murmúrio bem-vindo, na hora da calmaria que vai passando, enquanto a luz muda de uma luminosidade branca para a luz dourada da tarde que ilumina e aquece a memória das coisas boas e felizes. O vento eleva-se, fazendo crescer o ribombar das ondas a quebrarem-se na praia.

As gaivotas gritam entre si, voando em bando, e o grito quebra de novo o silêncio da paisagem harmoniosa. Ecoa nas rochas e perde-se no vazio, mas, de repente, outro grito incerto responde ao primeiro e as duas almas perdidas reencontram-se sob a fina e translúcida luz crepuscular que cobre a praia à hora do ocaso.

A Filha do Barão, Célia Correia Loureiro





O meu gosto por romance histórico é bastante recente, mas confesso que fiquei rendida à prosa da Célia Loureiro desde da primeira à última página (tal como aconteceu com os livros da Carla M. Soares). Já andava para ler este livro há um ano e acho que lê-lo somente agora foi o timming certo, uma vez que promete uma continuação. Mesmo havendo algumas gralhas, que me fizeram tropeçar na leitura, este livro mexeu comigo de uma forma que muito poucos conseguiram, porque o sofrimento suportado pelos protagonistas me eriçou os nervos e porque, cada vez mais, é preciso acreditar em histórias de amor.

Uma história que evoca um episódio marcante na nossa História enquanto povo e a tenção associada ao mesmo, cujo enredo carregado de suspense, medo, dúvida, intriga e amor, se desenvolve em torno de personagens cativantes e frustrantes, as quais primam pela sua excelente caracterização. Para além disso, a panóplia de emoções que a narrativa suscita é inebriante, está repleta de avanços e recuos, desencontros e confrontos que prendem irrevogavelmente a atenção do leitor. Uma história de amor que retrata uma época em que a condição da mulher era, sob todos os aspectos, revoltante, e que insinua uma certa esperança na crença de um amor verdadeiro e duradouro. Confesso que fiquei atordoada com o final, que foi tão inesperado como inquietante. O que será que irá acontecer?


segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Melhor Lugar do Mundo é Aqui Mesmo, Francesc Miralles e Care Santos





Já andava para ler este há algum tempo; um livro pequenino que nos diz tanto sobre aquilo que realmente importa: o presente. É uma leitura rápida e leve, mas muito curiosa e reflexiva, algo que de vez em quando também faz falta. A história de alguém que se desencantou com a vida e que por um acaso do destino descobriu que para vivermos plenamente temos de o fazer mesmo, aqui e agora. Porque a vida é construída no presente e as coisas acontecem quando as fazemos acontecer a altura certa. Creio que, ao debater esta questão do aqui e agora, os autores acertaram numa quase resposta à insatisfação de muita gente, porque grande parte do tempo desejamos as coisas, mas não fazemos nada ou fazemos muito pouco para que isso aconteça. E às vezes não é preciso procurar muito, basta ter atenção ao que sucede à nossa volta e agarrar as oportunidades que cruzam o nosso caminho. Gostei muito.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Dança dos Dragões e Os Reinos do Caos, George R. R. Martin



 


Nestes dois volumes, torna-se tudo muito mais complicado, mas são também muito reveladores em termos de suspeitas relativamente a alguns segredos deixados no ar nos volumes anteriores. A verdade está longe de ser descoberta na integra, as querelas agravam-se e perante o caos e o pronúncio do Inverno, há uma reconquista eminente, mas resta saber quem lhe sobreviverá e qual o fim desta grande saga. Não há dúvida que Martin escreveu com empenho e dedicação, uma história cavaleiresca de proporções épicas, onde nada é o que parece e cujas revelações são tão abruptas se sucedem umas às outras com uma rapidez vertiginosa.

O Festim dos Corvos e O Mar de Ferro, George R. R. Martin






Depois da atribulação causada pela guerra, o rescaldo dá origem a uma nova onda de intrigas, cada vez mais complexa, sem que se aviste um fim para as mentiras e meias verdades engendradas para atingir seja que objectivo for. Por cada situação a que se assiste o desfecho, Martin cria mais duas ou três, só para nos confundir mais um bocadinho, mas sempre mantendo as nossas expectativas em suspenso e fazendo-nos remoer os nervos que as atitudes de certas personagens nos causam. E o reboliço só piora daqui em diante!

A Tormenta das Espadas e A Glória dos Traidores, George R. R. Martin





Com estes dois volumes fiquei sem folego e em choque, porque não previa nada parecido (acho que é essa a ideia, ficarmos à nora!). Se por um lado os conflitos se tornaram mais tumultuosos, por outro as artimanhas e traições são cada vez piores. Para além disso, há um vislumbre do sobrenatural que começa a imiscuir-se na narrativa e que sugere a aproximação de algo que ninguém espera. A narrativa vai crescendo em crueza e frustração, revelando muito pouco e suportando o mistério com tantas personagens que tanto são envolvidas na narrativa como desaparecem da mesma. Porém, há um certo gozo no "castigo" aplicado a algumas personagens.

A Fúria dos Reis e O Despertar da Magia, George R. R. Martin






Após os sobressaltos finais do volume anterior, eis que nos deparamos com um cenário de guerra civil e diversas quezílias e intrigas espalhadas pelos Sete Reinos. O que é verdade e o que é mentira? A catadupa de emoções continua a surpreender nestes dois volumes, muito embora estejamos longe de obter qualquer resposta às nossas dúvidas.

É difícil escrever fantasia, mas criar algo tão complexo como esta saga parece-me quase impossível. Entre o enorme role de personagens e pequenos enredos, a mestria de Martin deixou-me agarrada à saga e a tentar descortinar uma série de ligações que, provavelmente, só serão reveladas no final.

A Guerra dos Tronos e A Muralha de Gelo, George R. R. Martin



 


Não costumo ler fantasia épica, mas no meu reportório literário não podia faltar a saga que tanto furor tem causado: A Song of Ice and Fire; cuja adaptação televisiva adoptou o título do primeiro livro, A Guerra dos Tronos. Apesar de não ser das minhas favoritas, é muito boa e prima pelas descrições e personagens realistas, tratando-se de um must read, ou seja, mais do que ver a série, acho que deveriam ler os livros.

O estilo de escrita de Martin é em tudo diferente daquilo que estou habituada, muito do género de romance de cavalaria, mas também por isso é que me cativou. O autor apresenta uma narrativa que se desenvolve sob a perspectiva de uma personagem diferente em cada capítulo, num enredo vertiginoso e repleto de intriga, suspense, mistério e reviravoltas sombrias. Confesso que fiquei curiosa para saber o que acontece a seguir.

Neste primeiro livro (na edição portuguesa cada livro está dividido em dois volumes), o autor dá-nos a conhecer algumas das personagens principais em torno das quais se irá desenrolar a intriga. Logo à partida é possível fazer distinção entre as personagens que adoramos, as que odiamos e as que não compreendemos; estão todas tão bem caracterizadas, as boas e as más, que é impossível resistir. No entanto, a crueza de certas passagens (sobretudo nos livros posteriores), arrepia qualquer um.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Pedaços de Escrita #48






As montanhas erguem-se sobre o vale; escuras, imponentes, austeras. Surgem cobertas por uma neblina cinzenta que esconde os seus mistérios e maravilhas e coroadas de nuvens escuras e cruéis. A luz é mortiça à hora morna da tarde e o murmúrio do vento é suave ao tocar-nos na pele. Pontos de cor iluminam as encostas verdes e castanhas, misturando-se em tons de azul, lilás, amarelo, rosa e vermelho; o perfume das rosas e das flores selvagens relembrando a transição da estação. À hora quieta e silenciosa ergue-se o pronúncio da tempestade, mas ao crepúsculo é o sonho de Verão que permanece. Aquieta-se o mundo e o sol desaparece, o vento cala-se e as montanhas confundem-se com o negrume da noite. A hora do lobo encontra uma lasca de lua sobre uma floresta encerrada em bruma, que se desvanece na luz cinzenta da aurora. O chilrear dos pássaros saúda o novo dia enquanto o sol se ergue no zénite e as montanhas surgem novamente em toda a sua imponência sobre o vale silencioso.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Planeta edita Torre de Espinhos de Juliet Marillier!







Há por aí fãs de Juliet Marillier? É que, ao que parece, está para breve a edição do segundo volume da série Blackthorn&Grim em português e segundo o Diário Digital consta das propostas da editora já para este mês! Vejam o artigo completo aqui: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=828790.

Sinceramente, pensei que a espera seria mais longa, mas ainda bem que, possivelmente, está quase a aparecer; gosto muito do trabalho desta autora e ter de esperar que saia um novo livro é sempre angustiante. Estou  mesmo muito curiosa em relação a esta série, por ser tão envolvente de uma maneira muito diferente do que acontece com outras. Oxalá, a edição se concretize este mês!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ida à Feira do Livro!





Mais um ano, mais uma passagem na Feira do Livro. À semelhança do ano passado, participei no Encontro com Bloggers, com a Carla M. Soares e com a Célia Loureiro, cujo o romance A Filha do Barão estava na minha lista desde Janeiro do ano passado e era livro do dia. Também aproveitei novamente os descontos da Hora H e, assim, adquiri as quatro primeiras leituras deste Verão. E desta vez pude publicar algumas fotos enquanto estava na feira, porque há Wi-fi! Apesar do calor que se fez sentir durante o dia, a conversa fluiu de forma muito agradável e o serão foi tão bom que compensou o cansaço, com uma pequena sensação de realização, porque a minha lista continua comprida. Mas quanto a isso, há sempre a Feira do ano que vem!

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Pedaços de Escrita #47





A cidade foi outrora dos escritores. Daqueles que faziam vida de café e manipulavam o que viam para o transformar no seu trabalho. Agora os cafés enchem-se de turistas e quase não se vêem escritores nas ruas. É isso que faz falta, porque os turistas só contribuem para a economia. Os escritores deviam poder andar por aí, a alimentar a criatividade com os ecos que observam na cidade, porque são eles quem os vê. Os escritores deviam ser livres de explorar e conhecer o mundo a seu belo prazer e não confinados a um qualquer escritório bafiento que lhes rouba todo o espírito criativo. Os escritores deviam ser reconhecidos pelo seu trabalho moroso que enriquece a cultura, porque são eles que compõem a sublime arte da Literatura. 

De todas as artes, a Literatura é a mais mutável e evolutiva, talvez, e os escritores evoluem com ela. É por isso que deviam voltar à "vida de café", a escrever em blocos de notas em bancos de jardim, e nunca deixar de alimentar a sua criatividade. Deviam ser sempre reconhecidos pela sua arte literária, seja qual for a forma em que esta se manifeste. Importa que a Literatura seja de novo vista como a mais nobre de todas as artes, porque a arte de contar histórias é inerente à sociedade humana e seria desastroso perder essa arte. É tempo de os escritores serem livres para escrever, para usufruírem da sua vida ao seu gosto e ritmo, para experienciarem e saborearem, para conhecer e para se reencontrarem. É tempo de os escritores mostrarem que estão vivos!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier





Juliet Marillier nunca deixa de me surpreender a cada narrativa. A série de Sevenwaters e a trilogia Shadowfell arrebataram-me de uma forma que não sei explicar e, agora, Blackthorn & Grim tira-me novamente o fôlego. Correndo o risco de me tornar repetitiva, devo dizer que a capacidade de variedade que a autora demonstra ao construir histórias tão diferentes umas das outras é extraordinária, todas repletas de mistério e intriga e personagens fortes e carismáticas. Blackthorn é uma mulher adulta que se tornou amarga perante as circunstâncias da vida e Grim um homem forte, mas perdido; é na companhia um do outro que empreendem a viagem até à misteriosa Floresta dos Sonhos, em Dalriada. Uma narrativa forte, que se desenrola fluidamente em torno de um tema sério: os abusos e maus tratos dos quais muitas mulheres sofrem em silêncio; ainda assim, uma leitura empolgante e impossível de pousar antes de chegar ao fim.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Livre Para Amar, J. A. Redmerski





Redmerski apresenta-nos mais uma narrativa arrebatadora, que nos fala de escolhas e liberdade, mas sobretudo sobre ultrapassar o passado e conquistar a felicidade. O enredo talvez seja mais simples, mas as personagens são sempre muito vivídas, muito reais; mais do que isso, porque uma relação que à partida parece não ter futuro nenhum, é mais verdadeira do que qualquer outra coisa. O facto de se passar num cenário idílico desperta uma certa vontade de largar a realidade e seguir um rumo mais livre e verdadeiro. Em suma, aquilo que queremos é possível de conseguir, basta ter a coragem de seguir o instinto do nosso coração. Não sei porquê, mas acredito que este é o género de amor que faz sentido; pena nem sempre como imaginamos, porque seriamos muito mais felizes. 


sexta-feira, 8 de abril de 2016

O Regresso dos Lobos, Sarah Hall





E ao meu abrangente reportório literário juntou-se mais uma obra recente e, por mero acaso, de uma autora com um certo renome. Estou ainda a tentar recuperar do transe em que mergulhei com este livro. A escrita directa e algo elaborada de Sarah Hall é excelente e a narrativa prende o leitor do início ao fim, decorrendo num ritmo rápido, mas reflexivo, que aborda tanto as fronteiras entre o selvagem o civilizado, o certo e o errado, o agora e o amanhã, como a miríade que de escolhas que compõem a nossa condição humana, seja qual for o momento em que nos encontramos. Para além disso, apresenta personagens carismáticas, enigmáticas e realistas, que compõem um enredo elaborado e intrigante. Uma leitura marcante para quem se debate com as questões inevitáveis da vida e contempla o equilíbrio utópico da relação entre o lobo e o Homem.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Pedaços de Escrita #46





O ar cheira a Primavera; é morno e cálido, a luz do sol aquece verdadeiramente depois de tantos dias de tempo incerto. A brisa murmura por entre o restolhar das copas das árvores, onde os pássaros chilreiam incessantemente, cruzando conversas entre si. A tarde está impregnada de uma calma languida que promete liberdade, os campos reluzem, prenhes de luz e cor. O céu tornou-se mais azul, mais vivido e deslumbrante. Os dias mais longos trazem realização aos sonhadores e as artes, recolhidas durante o Inverno em severa hibernação, florescem em espontaneidade e fulgor, pespegando inspiração e alegria por onde passam. O calor morno e primaveril enche a floresta de vida e de júbilo, revelando todo o seu esplendor num simples toque. A luz, os sons, as cores e os cheiros ecoam plenamente pelas florestas, pelos vales e pelas montanhas. A Natureza renascida em toda a sua pujança e força, sob a luminosidade cálida de uma tarde de Primavera.

terça-feira, 5 de abril de 2016

86ª Feira do Livro de Lisboa!





Estamos mais uma vez em contagem decrescente para a Feira do Livro de Lisboa, que este ano conta a sua 86ª edição, e se realizará entre 26 de Maio e 13 de Junho, no Parque Eduardo VII. Se o ano passado a feira prometia, este ano ainda mais. Verdade seja dita que a cada ano a expectativa aumenta e a feira não desilude. É um grande marco cultural importante que promove a leitura para todas as idades e gostos. Para além disso, é uma excelente oportunidade de passar bons momentos em família, conviver e fazer algumas novas aquisições. Da minha parte, espero ansiosamente poder aproveitar ao máximo o espaço da feira. Quem sabe se não acontece algo inesperado? 

quinta-feira, 31 de março de 2016

Pedaços de Escrita #45





Os lobos uivam à lua, quebrando o silêncio monótono da noite. Na quietude do bosque que rodeia a cabana, uma coruja pia em aviso que vai à caça. A noite é fria na montanha, onde a beleza e o perigo andam de mãos dadas; lá em cima, nos cumes, ainda há neve, um tapete compacto que decerto encherá os riso quando derreter. O assobio cortante do vento junta-se aos uivos dos lobos, enquanto vou escrevendo, sentada numa posição esquisita junto à lareira crepitante. 

A noite é sempre melhor para escrever, porque há espaço para criar sem a interferência do reboliço quotidiano. É mais fácil trabalhar as palavras e brincar com elas com a companhia sussurrante da euforia nocturna. O texto compõe-se quase por si próprio e a mente acelera com novas ideias, urgentes, que têm de ser atendidas. Escrevo pela noite dentro, acompanhada pela sinfonia dos uivos dos lobos e do vento, enquanto a lua segue o seu caminho pelo zénite, até à hora da calmaria que antecede a aurora de um novo dia de Primavera.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pedaços de Escrita #44






Ode a nós, mulheres, que trazemos vida ao mundo e damos sempre o melhor de nós, que nos esforçamos até à dor para iluminar uma sala com a nossa presença, que sorrimos mesmo quando queremos chorar, que descobrimos forças onde apenas existe o vazio. Ode a nós, mulheres, que enfrentamos os desafios de cabeça erguida, que procuramos soluções criativas, que nos empenhados em cumprir os nossos objectivos e alcançar as nossas metas. Ode a nós, mulheres, que completamos o mundo com o nosso mistério.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pedaços de Escrita #43





Era uma noite tempestuosa, fria e escura. Chovia torrencialmente e caia granizo, a força do vento dava voz à borrasca. Felizmente não trovejava. Ellie enroscara-se no sofá com uma manta sobre as pernas, um livro e uma caneca de chocolate quente. Não pretendia dormir até Drew chegar a casa, porque se sentia mais segura à noite quando ele estava. Desde que se lembrava, tinha medo de dormir sozinha e quando ele não vinha, Ellie não dormia; ficava a ler ou a ver filmes. Nessa noite, pelo menos não estava rodeada pelo silêncio, algo que sempre detestara. 

Acabara de beber o último golo de chocolate quando começou a cabecear e ao fim de algum tempo fechou os olhos. Mas continuava a ouvir a chuva a tamborilar na vidraça e atenta a qualquer movimento. O cansaço acumulado ameaçava vencê-la, mas Ellie não se deixou vergar e continuou à espera. Embrulhou-se melhor na manta, inspirou fundo e concentrou-se na chuva.
Então ouviu o estalido metálico da porta e sentou-se devagar no sofá. Drew surgiu à porta da sala, esboçando um sorriso encorajador e Ellie levantou-se para o ir abraçar.
- Demoraste - murmurou ela.
- Desculpa, a chuva atrasou-me - respondeu ele sem deixar de sorrir.
Ficaram abraçados naquela calmaria apenas quebrada pela chuva por algum tempo. Drew beijou-a na testa e disse:
- É tarde, devíamos ir dormir.

Ellie não respondeu. Quando Drew olhou para ela, reparou que adormecera e carregou-a até ao quarto. Deitou-a sobre as cobertas macias, trocou de roupa e deitou-se ao lado dela, cobrindo ambos com uma manta. Abraçou-a e fechou os olhos. Na quietude do quarto o único som que continuava a fazer-se ouvir era o tamborilar constante da chuva na janela e o assobio do vento daquela noite tempestuosa, fria e escura.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Casa Redonda, Louise Erdrich





Quando um livro, além de best-seller, é também premiado deve ser mesmo bom. Não costumo ler livros premiados, nem os escolho por isso; escolho-os consoante aquilo que me chama à atenção na sinopse ou consoante o tema. Para além disso, e que me lembre, não há muitas obras que tenham por base um contexto de factos verídicos. Este livro retrata temas muito fortes de uma forma um tanto ou quanto simplista e incompleta, como é natural da perspectiva de um miúdo de treze anos que a autora nos apresenta. Por outro lado, o facto de evocar a complexidade as questões legais (e não só) em relação às reservas onde vivem os indíos norte-americanos, que ainda hoje provocam tensão nos EUA, chama à atenção para a necessidade de soluções para determinados problemas que não se resolverão se a comunidade continuar a fingir que está tudo bem; isto porque o racismo e a violência contra as mulheres continuam a ser problemas sociais presentes no mundo contemporâneo e estão longe de ter um fim à vista. Esta é uma obra que proporciona uma leitura reflexiva sobre a força de carácter e integridade necessárias a proceder correctamente, mas também sobre as consequências que advêm das atitudes mais inocentes.   

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A Voz, Juliet Marillier





Um mês após a leitura de O Voo do Corvo, eis que me deparei com o momento da verdade sobre esta trilogia. Neste último volume, depois dos acontecimentos decisivos que lançaram Neryn, Flint, os Boa Gente e os Rebeldes numa corrida contra o tempo, Marillier apresenta-nos o lado vitorioso da perserverança e da coragem, mas também a mágoa da perda e o confronto cru com a própria consciência. A narrativa de Marillier é tão excelente que nos desperta uma miríade de emoções, como se vivêssemos a história ao lado dos protagonistas, algo que, na minha sincera opinião, não acontece com qualquer autor. Gostei muito das obras de Marillier que li anteriormente, desta gostei mais ainda que rapidamente se tornou uma grande favorita e acho que a autora dificilmente deixará de nos supreender.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Pedaços de Escrita #42






- Já não se usam chapéus - dizia a avó Julieta enquanto atravessávamos a rua ao regressarmos do chapeleiro. - Sabes, Lúcia, os chapéus costumavam ser um adereço muito importante na toillette de uma senhora.
Para a avó Julieta a toillette de uma senhora queria dizer muita coisa. Como as senhoras já não usam chapéus, a avó acha que não são verdadeiras senhoras. Eu não disse nada, porque nesse momento bem que teria dispensado o meu chapéu, que me fazia suar em bica, pela cara e pelo pescoço. A minha carteira saltitava de encontro à minha anca, enquanto transportava os sacos das compras pela rua acima. Daí a pouco a minha avó comentou casualmente:
- Hoje em dia as moças novas não ligam nenhuma à etiqueta da toillette, pois não?
Reprimi um sorriso, pensando na minha irmã Madalena com a sua minisaia e top justo quando sai à noite. A avó teria um ataque se a visse assim vestida, mas para nós era normal. Às vezes olhava-nos de lado por causa de uns simples calções.
- É um tempo diferente, avó - respondi, suspirando aliviada quando a Maria nos abriu a porta e me tirou os sacos das mãos.
- Pois, lá nisso tens razão, filha - aquiesceu a minha avó. Um segundo depois acrescentou: - Mas vocês tenham tino com o que vestem, Lúcia, que as más-línguas estão sempre prontas para julgar os outros! Além disso, as primeiras impressões que se tem sobre uma pessoa são as mais importantes.
- Sim, avó - respondi, escondendo a minha expressão enquanto pendurava os chapéus no bengaleiro e pousava as malas na banqueta. - Mas, explica-me lá, avó, porque é que os chapéus eram tão importantes na toillette das senhoras?
- Ah, os chapéus! Eram de todas as cores e feitios, havia-os grandes e pequenos; eram parte da própria moda - contava a avó com um ar sonhador, sentada na sua poltrona favorita. Eu sentei-me de pernas cruzadas no sofá e ali fiquei o resto da tarde, a ouvir histórias sobre chapéus.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Origem de alguns contos de fadas é anterior à época em que foram escritos!





Segundo o The Guardian, foi recentemente publicado um estudo sobre a origem dos contos de fadas, efectuado pela Universidade de Durham, em Inglaterra, em parceria com a Universidade Nova de Lisboa. Com este estudo, os académicos comprovaram que a origem de contos nossos conhecidos como A Bela e o Monstro, João e o Pé de Feijoeiro ou Rumplestilskin é milhares de anos anterior à altura em que os mesmos foram escritos. É curioso deparar-me um artigo tão interessante relacionado com este tema, uma vez que pensamos muito pouco sobre as origens dos contos de fadas e da própria arte de contar histórias. Além disso, este é um tema de que gosto muito e é parte integrante da minha dissertação de mestrado; quase que veio mesmo a propósito. 

Espero que gostem. Bem-haja!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Pedaços de Escrita #41






Perto do rio, o nevoeiro adensava-se invernosa enquanto caminhávamos pelo trilho escorregadio, num passo estugado. A luz pálida tornou-se mais forte enquanto o sol corria pelo céu e a manhã se escoava. A viagem nunca me parecera tão longa como nesse momento, porque continuávamos a caminhar num ritmo cada vez mais rápido e quando chegámos a uma bifurcação, Liam praguejou. Percebi pela sua expressão que o dilema lhe corroía os nervos. Ponderou a situação por um momento e, sem um único olhar de relance para mim, avançou a passos largos pelo trilho da direita. Respirei fundo, engoli uma resposta torta e seguiu-o, embora me apetecesse bater-lhe. Não trocáramos uma palavra desde a discussão da noite anterior, e não era eu quem tinha de dar esse passo. Ele sabia que eu tinha razão, mas teimara em ignorar as minhas palavras e insistira nesta viagem repentina, arrastando-me com ele, quando não havia motivo para precipitações, embora eu tivesse visto o medo nos seus olhos e a urgência nos gestos.

Caminhávamos há tanto tempo que eu já perdera a conta aos dias, mas as grandes neves estavam a chegar, o que significava que não podíamos demorar na estrada. O nevoeiro começou a levantar e nas copas altas dos carvalhos e das faias, os pássaros chilreavam sem cessar e os animais pequenos faziam restolhar a vegetação rasteira. Liam parou de repente e eu parei também, perguntando-me a que se devia aquela interrupção abrupta, quando ouvi o tropel atrás de nós. Pela primeira vez nesse dia, Liam olhou para mim, com um olhar que era todo alarme. Tomei a dianteira e peguei-lhe na mão, puxando-o para o abrigo das árvores e empurrando-o para trás de um grande carvalho. Quem quer que fosse a passar não nos veria da estrada.

Com o coração alvoraçado, encostei a cabeça ao peito dele e fechei os olhos, tentando acalmar a respiração. Esperava que ele tentasse fazer o mesmo, porque se fosse tomado pelo pânico, eu, sozinha, não conseguiria ajudá-lo. Para minha surpresa, Liam abraçou-me, como se esperasse tranquilizar-me com o gesto; mas era ele quem estava aterrado. Retribui-lhe o abraço e ouvi-o suspirar profundamente. Não sei quanto tempo assim ficámos, mas pareceu-me uma eternidade e era tarde quando desfizemos o nosso abraço para regressarmos à estrada. Estava frio e levantara-se vento, mas caminhámos até ao crepúsculo.

Contrariamente às minhas expectativas, ele não me largou a mão; na verdade segurou-a suave e firmemente, como se eu fosse a única âncora da sua sanidade. 
Saímos da estrada e procurámos abrigo na floresta, acampando numa pequena gruta. Apesar da fogueira baixa, o frio era tão cortante que nos encostámos um ao outro enquanto comíamos frugalmente e nos quedávamos em silêncio a escutar os ruídos da noite. Quando a fogueira se reduziu a cinzas e pensava que ele já tinha adormecido, Liam murmurou:
- Perdoa-me, meu amor.
- Está tudo bem - respondi-lhe, erguendo uma mão para lhe acariciar a face. A minha fúria já se tinha dissipado e agora só desejava confortá-lo. Afundei-me no seu abraço e senti os seus lábios na minha testa.
- Não devia ter dito o que disse - ouvi-lhe a sombra da tristeza na voz.
- Nem eu - disse-lhe.

Procurámo-nos, hesitantes, na escuridão e quando os nossos lábios se tocaram, soube que a zanga tinha passado. Trocámos beijos e carinhos; depois, esquecido o medo, amámo-nos com um fervor apaixonado, até adormecermos nos braços um do outro. E no dia seguinte prosseguimos a nossa viagem de regresso à casa longínqua com o coração mais leve, mas a mente fugindo para as preocupações quotidianas e os perigos da estrada. O inverno é perigoso para viajar, mas apesar das minhas reservas, alcançámos o nosso destino antes das primeiras neves. Por quanto tempo duraria a nossa paz ou quando desapareceriam os fantasmas antigos dos sonhos de Liam, eu não sabia. Mas sabia que estávamos finalmente em casa e que tínhamos, por fim, uma hipótese de sermos felizes.

sábado, 9 de janeiro de 2016

O Voo do Corvo, Juliet Marillier





Neste segundo volume da trilogia de Shadowfell deparamo-nos uma impressionante reviravolta. Após recuperar da longa e reveladora viagem, Neryn aceita o seu destino e empreende uma nova aventura nas terras de Alban, à procura daqueles que a podem guiar no uso sábio do seu dom. É mais uma vez posta a prova das formas mais duras, mas prevalece sempre; enquanto isso Flint vai escorregando em direcção àquela que parece ser a derradeira decisão: continuar a fingir perante o rei ou juntar-se de vez aos rebeldes? Tanto um como o outro enfrentam desafios que tanto os afastam como aproximam e que lhes impõem uma dolorosa perda e acentua a corrida contra o tempo. Será que os rebeldes conseguirão levar a sua causa a bom porto? Haverá ainda esperança num amanhã melhor para Alban? Espero descobrir em breve.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Chama de Sevenwaters, Juliet Marillier





Eis que termina uma das melhores, ou mesmo a melhor saga de romance fantástico. Claro que a segunda parte parece um pouco alheada da primeira, mas ainda assim é irresistível. Marillier nunca deixa de nos surpreender com a sua mestria de contar histórias. Neste último volume de Sevenwaters a autora confere um derradeiro final feliz a esta familía tão amada pelos leitores. O facto de Maeve encontrar uma nova esperança e um novo rumo enche o leitor de alívio e ternura, porque é mais do que justo; Finbar relembra-nos,em certos aspectos, o seu homónimo e impressiona pela sua coragem e bondade; Ciáran encontra por fim o seu destino. Mais uma vez nos deparamos com uma viagem repleta de sacrificio e recompensa, que nos rocorda que todos os nossos actos têm as devidas consequências e beneficíos, que quando menos esperarmos o destino virá ao nosso encontro. Esta é daquelas sagas que nos fica sempre, haja o que houver e, por isso, recomendo vivamente a leitura e releitura.

2016!





Feliz 2016! Mais um ano que passou, mais uma oportunidade de recomeçar e conquistar novos objectivos e abraçar os pequenos milagres da vida! Se 2015 foi um ano infeliz, nada melhor do que nos assegurarmos que 2016 passa recheado de coisas boas. Quanto ao blog, eu sei que nos últimos tempos não tenho sido assídua, mas vou dar o meu melhor para o pôr sob rodas assim que for possível. Entretanto, desejo-vos umas boas leituras e não se esqueçam de visitar a página de Facebook do blog. Bem-haja!