quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Uma Família Inglesa, Júlio Dinis






Nunca tive por hábito ler autores portugueses clássicos, o que considero ser uma grande falha não ler a nossa literatura. Confesso que ainda assim tenho uma certa inclinação pelos autores românticos e, por isso, tive curiosidade em ler Júlio Dinis, até porque que é uma leitura bem mais satisfatória quando a curiosidade nasce espontaneamente em nós, daí ter juntando Uma Família Inglesa à minha biblioteca. Uma narrativa romântica e divertida pelos seus encontros e desencontros, numa escrita fluída, embora lenta até aos últimos capítulos, que reúne um tanto ou quanto de conto de fadas, mas com um argumento sólido e personagens bem caracterizadas. Apesar de tudo, sobretudo o desfecho do qual esperava mais qualquer coisa, a estória superou as minhas expectativas em relação autores lidos pela primeira vez, por isso, não tenham reservas em ler também os nossos grandes autores clássicos!

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Pedaços de Escrita #63





Isto há com cada um...Querem ver que agora trabalhar é mau! Onde é que eles ouviram tal coisa?, pensou, distraída com a conversa dos rapazes. E continuou com a costura, abanando a cabeça em reprovação e deitando olhares significativos ao irmão, que respondia com um encolher de ombros, como quem diz: coisas de rapazes. Ao fim de algum tempo, Clara deu por terminada a sua tarefa e retirou-se, um tanto ou quanto cansada de tanta gabarolice. Daí a alguns momentos ouviu a porta da rua e a casa ficou, por fim, silenciosa. Dinis veio ter com ela, como quem quer perguntar alguma coisa, mas quedou-se a olhá-la infinitamente, até que a irmã se impacientou e perguntou:
- O que é?
- Estava a pensar - disse ele, mantendo aquela expressão pensativa que ela conhecia tão bem.
- Em quê, no dia de ontem? - brincou Clara, tentando conter um sorriso.
- Ah, ah, muito engraçada, Clara! Não, estava era a pensar no que há-de ser a minha vida quando terminar o colégio.
- Ah! - exclamou Clara, com uma expressão conhecedora - Alguma coisa relacionada com a conversa dos teus amigos?
- Sim e não - respondeu Dinis, sem a encarar.
- Então? - insistiu Clara, quando o silêncio se estendeu demasiado.
O rapaz suspirou e deixou-se cair ao lado dela no sofá. Clara pousou o livro na mesa de apoio e endireitou-se, à espera. De cenho franzido, ele acabou por confessar:
- Digamos apenas que os negócios comerciais que o pai nos legou não são o que mais me atrai como vida de trabalho, embora a minha educação seja quase toda vocacionada para os mesmos!
- Entendo o que queres dizer - replicou a irmã, gentilmente, antes de aditar muito séria - Porém, espero que tenhas consciência de que estes negócios são todo o património que o pai nos legou. Seria de muito mau tom se não fossemos nós a geri-los! - fez uma pausa para respirar e rematou - O nosso irmão não pode se pode responsabilizar por tudo sozinho, é nosso dever partilhar essa responsabilidade.
Dinis ponderou nas palavras dela por uns instantes, depois sorriu-lhe em jeito de despedida e saiu. Clara não o voltou a ver até à hora do jantar; tinha acabado de verificar a refeição com a cozinheira quando os dois irmãos entraram em casa em amena cavaqueira.
- Ora, imagina tu, Clara, que este asno me apareceu lá no escritório esta tarde, a indagar sobre os negócios! - comentou Alexandre, com um sorriso zombeteiro - Que lhe disseste para lavrar tal disposição, querida irmãzinha?
- A verdade: que os negócios do pai são responsabilidade dos três e, por isso, o Dinis não se deve meter em aventuras quando terminar o colégio no ano que vem.
Alexandre sorriu, agradado com o espírito razoável da irmã.
- És a mais nova, mas sempre foste a mais sábia de nós os três, mana! - exclamou, dando-lhe um beijo na testa.
- Ora, deixem-se de lamechices e vamos jantar! - atalhou Dinis, sempre impaciente à hora da refeição.
Os irmãos riram-se e seguiram-no até à sal de jantar. Não se falou mais no assunto dos negócios e, quando o Verão terminou, Dinis e Clara regressaram ao colégio. No Verão seguinte, Dinis completou a sua educação e cumpriu a promessa muda que fizera à irmã durante a sua conversa, indo auxiliar o irmão com os negócios. Mais tarde, Clara juntou-se-lhes e nunca antes se haviam sentido tão unidos pelo mesmo propósito como então. Apesar das grandes responsabilidades, os três irmãos eram felizes.

Reflexões #23 - O Princípio da Realidade e os Limões da Vida!





Ultimamente tenho-me sentido algo decepcionada com certas circunstâncias e pessoas e pessoas da minha vida, algumas das quais, de certa forma, eu já antevira quando era mais nova. Também têm acontecido coisas boas, sim, mas são mais aquelas que me deixaram à nora nos últimos tempos. Em relação a algumas situações e atitudes, tenho consciência de que, por muito que me revoltem, provavelmente não está nas minhas mão resolvê-las. Sobre certas outras, porém, cheguei à conclusão de que não vale a pena sofrer por antecipação.

Para além disso, percebi que não podemos medir ou cingir a nossa realização a um determinado número de anos, temos de viver um dia de cada vez e ver o que acontece, e também não podemos reger o nosso pensamento pelos intermináveis "ses" que cada decisão nos obriga a deixar para trás: "Se eu tivesse feito / ido/ dito/ tirado /posto/ acontecido, etc...". Há um momento em que somos obrigados a esbofetearmo-nos e firmar: "Chega de auto-comiseração e de "ses"! De agora em diante vou viver no presente e seguir o meu caminho, vou ser feliz com as minhas escolhas e controlar apenas aquilo que depende de mim!".

Eu estou a viver esse momento. Quero mais do que tudo, andar com a minha vida para a frente e, como tal, tive de saltar para fora da minha zona de conforto e "agarrar" um trabalho que não tem nada a ver com a minha formação. Chama-se a isto o Princípio da Realidade, como me disseram recentemente, e infelizmente há muita gente que tem de se reger por este princípio para conseguir ter uma vida digna. No fundo, tudo isto significa que, quando se quer muito uma coisa nesta vida, temos de trabalhar e lutar para a conseguir, temos de nos adaptar às circunstâncias, tal como o camaleão se adapta ao meio envolvente, e desenvolver outras capacidades, que por vezes desconhecemos. 

Claro está que ao fazer isto não devemos deixar para trás os nossos sonhos, pelo contrário, devemos agarrar-nos aos mesmo ainda com mais afinco! Não é fácil, mas consegue-se com empenho, determinação e disciplina. É como diz o ditado: "Se a vida te dá limões, faz limonada". E com este calor, bem que apetece, não acham? Vá, vão fazer a vossa limonada da vida, que eu estou a fazer a minha!