domingo, 30 de março de 2014

Um Gato, um Chapéu e um Pedaço de Cordel, Joanne Harris





Esta colectânea de contos de Harris é simplesmente indescritível, uma das melhores que li até hoje. É fascinante como as coisas mais simples e mais verdadeiras podem ser tão estimulantes. Apesar do título invulgar (a autora explica o porquê na introdução) estes pequenos (não tão pequenos) contos são de leitura fácil, mas que nos fazem pensar nos pormenores que de certeza encontramos se olharmos em volta. Se me perguntassem quais as que mais apreciei, sem dúvida que responderia: "Apreciei todas, mas gostei muito de Fé e Esperança Voam para Sul, Dríade, Fantasmas na Máquina, Faça Você Mesmo, Musa e Fé e Esperança Vingam-se". Mais uma obra que recomendo vivamente e um must read para quem aprecia uma boa companhia.

Um Lugar Chamando Aqui, Cecelia Ahern





Alguma vez pensaram que poderia realmente existir um lugar para onde vão as coisas perdidas? Difícil, eu sei, mas é precisamente sobre isso que fala esta narrativa de Cecelia Ahern. A protagonista é obcecada por coisas perdidas, até que um dia também ela desaparece. Esta é talvez a histórias mais surreal que alguma vez li, mas é muito divertida. No fundo, Sandy Short (que é alta e de cabelo escuro, entenda-se a ironia) procura a sua verdadeira identidade, apesar de ser especialista em encontrar pessoas desaparecidas, mas o que era mais um caso que Sandy estudou a fundo, acabou por conduzi-la ao lugar mais inesperado de todos: Aqui, onde vão parar as coisas e pessoas desaparecidas. Irónico, encantador e repleto de humor, mas também que de algumas reflexões, este encantador romance prende-nos até ao fim com uma grande dose de boa disposição.

Se me pudesses ver agora, Cecelia Ahern





Esta é mais uma das encantadoras histórias de Ahern, não só pelo toque com que trata a temática do amigo imaginário, mas também pela escrita ternurenta da autora, que em cada livro nos apresenta uma forma diferente de encarar as peripécias da vida. Li-o há já alguns anos e não podia deixar de o comentar aqui. Elisabeth não teve uma infância fácil, mais a mais com o fardo de educar a irmã e cuidar do pai. Talvez devido ao abandono da mãe em tão tenra idade, Saoirse tornou-se problemática, causando um forte impacto na vida de todos à sua volta, sobretudo Elisabeth que de súbito se viu encarregue de criar o pequeno Luke, devido ao desequilíbrio da irmã. Sem dúvida uma história irreverente, que cativa o leitor da primeira à última página,e onde encontrar a felicidade poder ser mais fácil do que parece à primeira vista.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Dubliners, James Joyce





Depois de ler A Portrait of the Artist as a Young Man, tendo sido essa leitura o contacto mais aprofundado com a obra de Joyce, fazia todo o sentido ler também a sua colectânea de short-stories. Na minha opinião trata-se de uma leitura mais fluída, apesar de que alguns contos dão a ideia de terminarem numa narrativa aberta. Muitos deles dão que pensar, mas todos passam por histórias quotidianas que envolvem as diferentes gerações de habitantes de Dublin à época em que Joyce as escreveu, retratando a sociedade da transição do século. Com uma descrição fiel das ruas e avenidas que compõem a maior cidade irlandesa, bem como dos parques / jardins principais, passando por diferentes narradores e personagens. Confesso que de alguma forma todos estes contos me marcaram, mas tenho particular preferência por Eveline e A Mother.

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez





Li este livro pela primeira vez quando tinha nove ou dez anos. Não me lembro se foi porque o quis ler ou por ser leitura obrigatória na escola, mas sei que foi o exemplo mais figurativo do mundo da droga que alguma vez li. Creio que de certa forma o exemplo das personagens estabeleceu no meu inconsciente a ideia de que o "caminho da droga" é um caminho perigoso e errado. Porém, somente ao reler o livro me apercebi de determinados pormenores, talvez por ter passado tanto tempo e confesso que a minha primeira impressão se mantém. Compreende-se que por um lado o desgosto é normal quando se perde alguém, por outro há qualquer coisa no desgosto da Joana que a leva a desinteressar-se de tudo o que mais estimava e a enveredar por atalhos demasiado perigosos; claro que nada o justifica, porque a sua atitude se torna incompreensível, a mesma atitude que ela não era capaz de perceber nem perdoar à Marta e no espaço de quase dois anos, também a Joana destruiu a sua vida.

A Dama das Camélias, Alexandre Dumas (filho)





Há já algum tempo que tinha curiosidade em ler este livro e houve por fim ocasião para o fazer. Numa perspectiva narrativa muito diferente da que encontramos na escrita de Alexandre Dumas pai, A Dama das Camélias narra a triste história de Margarida Gautier, uma mulher cujo o estilo de vida lhe dava o título de "mulher da vida" ou de acompanhante de luxo à época em Paris, a par com a imagem da alcoviteira apresentada pela Sra. Devunoy.  No fundo, a narrativa retrata uma sociedade um tanto ou quanto ociosa, presa no vício e no exagero, mas é precisamente nomeio de tudo isso que surge um amor inconcebível, de um homem com o futuro pela frente e uma mulher que vive nos extremos do divertimento, do luxo e da luxúria, a qual acaba por abdicar desse mesmo romance, pelo qual se dispunha a prescindir da sua antiga vida. O estilo de escrita é diferente, mas fluído e rápido, percebendo-se as variações de perspectiva, sempre na primeira pessoa, e apesar de esta não ser uma obra que me tenha deslumbrado nem inspirado ou algo do género, também não me entediou. Creio que a realidade da vida que Margarida levava fosse quase banal na época, tão enraizado estava esse aspecto; igualmente não me parece que o autor tenda a criticar os maus hábitos da sociedade parisiense que o rodeava, antes limita-se a contar a história.