Nos últimos tempos tenho pensado e falado muito sobre livros, tanto como escritora como leitora. Primeiro, relativamente ao que posso fazer para catapultar o meu livro e a minha carreira literária, segundo, para satisfazer a minha necessidade intelectual de absorver novas estórias. Porém, tenho constatado que o nosso mercado livreiro ou literário é uma faca de dois gumes, pois se por um lado parece haver cada vez mais editoras (e autores) a competir entre si pela atenção do público leitor, por outro, o público leitor parece cada vez mais reduzido ou desinteressado. Das duas, uma: ou não há incentivo suficiente junto dos mais novos, nem interesse da parte dos mais velhos, ou os preços são realmente os grande dissuasores, quer de leitores "veteranos" quer de novos leitores.
É injusto, tanto para quem lê como para quem escreve (recordo que a maioria dos autores recebe quase sempre a percentagem mais baixa dos lucros de um livro, o que é um facto). Mas pondo as questões económicas de parte, tenho pensado nos livros de uma forma mais sentimental, porque aqui há uns tempos, passei por uma livraria e recordei-me dos primeiros livros que li enquanto leitora autónoma e deu-me vontade de os reler só pelo gozo. Estou a falar da colecção Uma Aventura, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, que foi a grande responsável pelo meu deslumbramento com a leitura. Li Uma Aventura nas Férias de Natal, algures no 3ºano, e a partir daí já não houve retorno, porque comecei a querer ler cada vez mais. É curioso como um acto tão simples se torna fascinante e indispensável para a nossa vida como respirar.
Os livros tornaram-se o meu porto seguro durante a adolescência, aquele lugar só meu onde não tinha que lutar e fingir para me integrar. No fundo, os livros fizeram de mim a pessoa que sou hoje, foram os amigos que não tive numa fase crucial da minha formação enquanto ser social e continuam a ser a âncora que me prende à realidade. Creio que também é importante ter em conta que a maior parte dos autores são leitores antes de serem escritores; parte do processo evolutivo da escrita passa por aí e, por isso, os escritores reconhecem-se uns aos outros com maior facilidade, inspiram-se e corrigem-se quando é caso disso.
Tendo tudo isto em conta, penso que hoje em dia as pessoas se esquecem que um livro é um tesouro incalculável, uma vez que a palavra escrita é a maior conquista do conhecimento humano. É maravilhoso o que um único livro pode fazer por nós! Sim, basta um livro para mudar a nossa perspectiva sobre muitas coisas e quem não cultiva, em si e nos outros, o hábito de ler não faz ideia da riqueza cultural que perde. Acresce a tudo isto o facto de haver muitas opções alternativas no mercado em termos tecnológicos, como os leitores digitais, mais fáceis de transportar, sem dúvida, e que ganharam adeptos nos últimos anos. Mas a maioria dos leitores (espero não estar enganada) prefere ainda sentir o livro-objecto nas mãos, a sensação de folhear e o cheiro do papel, bem como arrumá-lo numa prateleira para o ter sempre à mão.
Daí que talvez fosse sensato tornar os livros mais acessíveis a quem realmente quer ler. No que me diz respeito só não leio mais porque não posso comprar tantos livros como gostaria; caso contrário, era bem capaz de ler uns quatro ou cinco por mês todos os anos.