segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Pedaços de Escrita #40






Sou uma princesa das letras, uma rainha de silêncios e esperas. Caminho pelo palco deserto da vida, com passos leves e precisos. As palavras são meros murmúrios na calma do espaço vazio. Com passos de ballet, executo um bailado com a caneta, a tinta escorrendo pelo papel como a água de um rio pelo leito pedregoso. As palavras unem-se, formando frases e depois parágrafos, como as pedras que erguem os muros de um castelo. Endireito a tiara na cabeça, rodo a caneta algumas vezes entre os dedos, com um suspiro exasperado. Depois de mais um silêncio irrequieto, a caneta dança mais uma vez pelo papel, numa dança louca, repleta de saltos vorazes e piruetas arrebatadoras. E o texto cresce, cresce, cresce... Quem sabe onde vai parar?

A luz é diminuta e o silêncio adensa-se, mas a caneta exerce um fascínio mágico sobre a minha mente e não pára. A arte da palavra é exigente e caprichosa, dominada apenas pelos mais corajosos, aqueles que se atrevem a tecer os fios de uma história. Sou uma princesa das letras e, de cabeça erguida, trabalho a minha arte o melhor que sei, sempre em constante evolução e aprendizagem. E enquanto a noite avança, a escrita fluí como elegância, ritmo e efervescência. Quando o dia rompe e as sombras se diluem, as palavras esgotam-se e a caneta pára, o fluxo de electricidade abranda. Um bocejo súbito anuncia o esforço excessivo que o capricho da arte obriga. Reclino-me no sofá, fecho os olhos e mergulho no merecido descanso de uma princesa das letras. 

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