terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Pedaços de Escrita #42






- Já não se usam chapéus - dizia a avó Julieta enquanto atravessávamos a rua ao regressarmos do chapeleiro. - Sabes, Lúcia, os chapéus costumavam ser um adereço muito importante na toillette de uma senhora.
Para a avó Julieta a toillette de uma senhora queria dizer muita coisa. Como as senhoras já não usam chapéus, a avó acha que não são verdadeiras senhoras. Eu não disse nada, porque nesse momento bem que teria dispensado o meu chapéu, que me fazia suar em bica, pela cara e pelo pescoço. A minha carteira saltitava de encontro à minha anca, enquanto transportava os sacos das compras pela rua acima. Daí a pouco a minha avó comentou casualmente:
- Hoje em dia as moças novas não ligam nenhuma à etiqueta da toillette, pois não?
Reprimi um sorriso, pensando na minha irmã Madalena com a sua minisaia e top justo quando sai à noite. A avó teria um ataque se a visse assim vestida, mas para nós era normal. Às vezes olhava-nos de lado por causa de uns simples calções.
- É um tempo diferente, avó - respondi, suspirando aliviada quando a Maria nos abriu a porta e me tirou os sacos das mãos.
- Pois, lá nisso tens razão, filha - aquiesceu a minha avó. Um segundo depois acrescentou: - Mas vocês tenham tino com o que vestem, Lúcia, que as más-línguas estão sempre prontas para julgar os outros! Além disso, as primeiras impressões que se tem sobre uma pessoa são as mais importantes.
- Sim, avó - respondi, escondendo a minha expressão enquanto pendurava os chapéus no bengaleiro e pousava as malas na banqueta. - Mas, explica-me lá, avó, porque é que os chapéus eram tão importantes na toillette das senhoras?
- Ah, os chapéus! Eram de todas as cores e feitios, havia-os grandes e pequenos; eram parte da própria moda - contava a avó com um ar sonhador, sentada na sua poltrona favorita. Eu sentei-me de pernas cruzadas no sofá e ali fiquei o resto da tarde, a ouvir histórias sobre chapéus.

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