domingo, 19 de fevereiro de 2017

Pedaços de Escrita #54





Voltava sempre à mesma dúvida por esclarecer: Porque é que isto me acontece?. Parecia incapaz de ultrapassar aquele percalço da sua vida, vivendo como uma enclausurada, parada no tempo. Ficava simplesmente ali a olhar pela janela, a ver toda a gente avançar com a sua vida. Ele suspirava, já sem saber o que fazer, vira todos os seus gestos carinhosos serem ignorados. Se ao menos o seu desejo de maternidade se realizasse, talvez aquela apatia fosse varrida do seu semblante e a sua querida esposa voltasse a sorrir. Mas o que fazer se, mal se aproximava, ela lhe silvava, como um gato, para o afastar.

Após dias de desânimo, estava sentado no sofá, à espera nem sabia bem de quê. Pousou os cotovelos nos joelhos e escondeu o rosto nas mãos. Algum tempo depois, apercebeu-se da presença dela a seu lado. Ergueu o rosto, surpreendido, pegou-lhe nas mãos e beijou-lhas. Ela sentou-se ao lado dele, dobrando as pernas junto ao corpo e olhou-o fixamente. Ele acariciou-lhe o rosto e ela chegou-se para mais perto, sem o desfitar. Arrepiado perante aquele olhar, ele pousou-lhe nos lábios entreabertos um beijo prenhe de desejo, sentindo-a arquejar. Subitamente, ela sentou-se no seu colo e desapertou-lhe lentamente os cordões da camisa, enquanto os lábios dele viajavam pelo seu pescoço, demorando-se no ombro e depois no peito, onde as mãos dele mergulharam ao abrir-lhe o corpete.

Encararam-se momentaneamente, eletrificados por aquele desejo mútuo desmesurado, sem saber de onde surgira, apenas que quando a paixão se inflama, alastra tão profusamente que a razão se some indefinidamente. Amaram-se ali mesmo com tal furor que perdurou nos dias que se seguiram, como se, como jovens apaixonados que eram, quisessem perpetuar eternamente a solidez da sua união. Meses mais tarde, essa solidez proporcionou-lhes o momento mais feliz da sua vida: a chegada do seu tão desejado bebé.

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