segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Pedaços de Escrita #58





Perdera o rumo, desnorteara-se por completo quando se descobrira sozinho no mundo. Não tinha para onde ir, nenhuma indicação do que fazer a seguir. Todavia, tinha a certeza de que, fosse como fosse, deveria seguir em frente e recomeçar. Tinha medo, um medo irracional de falhar... Ela rir-se-ia dele se ali estivesse naquele momento; depois dir-lhe-ia com brandura:

- A coragem não é a ausência do medo; a coragem é aceitar que esse medo existe e, ainda assim, fazer-lhe frente!

Ele sabia que assim era, mas não conseguia deixar de pensar que se não fosse o seu medo, talvez agora ela ali estivesse ao seu lado, em vez de ter embarcado naquela viagem temeraria sozinha. Ou talvez tivesse ido com ela; pelo menos saberia se ela estava bem. Mas não fora isso que acontecera: ele assustara-se e ela partira, deixando-o entregue ao silêncio vazio da casa antiga, recheada de histórias perdidas no pó do tempo.

Sair dali era a única coisa a fazer, restava-lhe descobrir para onde. Estudou o mapa. Ela sempre se deslumbrara com o Norte, talvez devesse começar por aí. Quedou-se por algumas horas à frente do mapa, traçando uma rota, até que se decidiu a dobrá-lo e empacotar alguns haveres essenciais para se fazer à estrada. Saiu para o ar fresco e límpido da madrugada de saco ao ombro, atirando-o para o banco do passageiro, e olhou para a casa uma última vez.

E partiu sem pensar duas vezes, porque o amor, quando é de verdade, faz-nos conquistar os maiores obstáculos e superar-nos a nós mesmos, ainda que nunca nos dê garantias de que veio para ficar. Porque quando se ama há que fazê-lo de coração aberto e mente serena, ir à luta e aproveitar as oportunidades que o amor nos dá para sermos felizes.

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